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cvrd aracruz/vcp/fibria política ambiental do es
2009-09-21

“Plantar árvores não é o suficiente para uma companhia convencer o consumidor de que protege o ambiente. É preciso mais”. A afirmação é da consultora francesa e assessora de grandes companhias em assuntos ambientais Elisabeth Laville à revista “Veja”, edição datada do último 16 de setembro. A ideia é fazer mais e, de fato, algo que minimize os impactos. Entretanto, no Estado o que se vê em anos de exploração dos recursos é exatamente o contrário.

A situação em que se encontra a Grande Vitória nos remete a um levantamento da médica Ana Quiroga, do Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória, responsabilizando a poluição pela inversão das causas de mortes de crianças da região (o item má-formação congênita havia saído dos últimos lugares da lista para as primeiras posições).

Em 2005, constatou-se o aumento de PM10 (material particulado que gera os maiores prejuízos à saúde, uma vez que não é retido pelas defesas do organismo, atingindo assim partes mais profundas dos pulmões, transportando-lhe substancias tóxicas e cancerígenas) no ar de Vitória. Na mesma ocasião, foi registrado o acréscimo de internações por doenças respiratórias de 17,2% e cardiovasculares em 8,5% em idosos no município.

Esses dois estudos levaram as empresas, com a cumplicidade dos órgãos governamentais, a interromper as pesquisas, com a nítida intenção de esconder a real situação. Em contrapartida, empresas como a Vale, na época CST, e Aracruz Celulose financiaram as campanhas eleitorais do governador Paulo Hartung, do senador Renato Casagrande, de nove entre os dez deputados federais da bancada capixaba e a maioria dos deputados estaduais eleitos.

A intensa campanha de que pequenos projetos ambientais serviam de justificativa para os prejuízos ambientais das poluidoras já não é aceita há anos, mas desta vez a sociedade finalmente conseguiu ser ouvida. Quer que as poluidoras usem tecnologia avançada para garantir a qualidade de vida prejudicada pela emissão, por exemplo, de 59 gases emitidos pela Vale e Arcelor Mittal. Isso sem contar Aracruz Celulose, Samarco Mineração S.A., Belgo, estando eles também acima dos limites suportáveis pelo ser humano, estando ou não previstos na legislação.

As indústrias resistem a se adequar e começam a sentir a disposição da sociedade organizada em exigir mudanças.  A Arcelor Mitall, por exemplo, diz que possui um cinturão verde com eficácia compatível com a moderna tela Wind Fence, que começou a ser instalada na Vale após dez anos de cobrança da sociedade. Diz ainda que possui um desnível em sua empresa de 15 metros, que impede a dispersão do material manipulado, ou seja, que está tudo sob controle.

O que absolutamente não é real. Os estragos são imensos. Além de poderem ser vistos a olho nu, continua chegando à casa dos capixabas o “pó preto”. De longe ele é visto por todos. Ainda há a densa fumaça preta e com mau cheiro, que sai de suas chaminés, a ponto de ser vista durante a noite.

O mau cheiro vem do enxofre. Estes poluentes, em grandes doses, como ocorre no complexo de Tubarão, e em contato com a umidade atmosférica, vira ácido sulfúrico, um dos componentes da chuva ácida. E esse é apenas um dos 59 gases emitidos no complexo de Tubarão.

Mudança de postura, mesmo, dizem os ambientalistas, só virá em troca de algo, como é o caso da Vale. A mineradora só alterou sua postura diante de forte pressão do movimento organizado. Também despertou o Ministério Público, que igualmente pressionou  a Vale. Ficou claro nesse embate com a Vale a convicção de que a população atingiu os seus limites de suportar uma poluição que ao longo dos anos dissemina doenças na Grande Vitória. Há também uma exigência do movimento organizado no sentido de que o problema da poluição seja minimizado, para só depois se discutir a ampliação de suas atividades industriais.

Pois, pelos ambientalistas, o que as empresas estão querendo com as medidas adotadas pela Vale e pela ArcelorMittal não passa de um logro. O que está se discutindo são medidas para garantir a qualidade de vida diante do conjunto industrial atual, enquanto as empresas poluidoras querem se valer dela ampliar suas produções, elevando o nível de poluição.

Nem mesmo o baque sofrido pelo setor de commodities no último trimestre de 2008 com o advento da crise financeira internacional muda a predileção por novos investimentos. No auge da crise, no início deste ano, no porto de Praia Mole, que escoa a produção de aço, a movimentação de cargas ficou em 1,27 milhão de toneladas, uma queda de 13% na comparação com o mesmo período de 2007. Já o terminal de Tubarão, da Vale, registrou uma redução de 30%.

A redução nos embarques expõe a fragilidade do arranjo produtivo local. Sem uma variação de atividades, a indústria baseada nas exportações sofre com a redução na demanda do mercado. Outro indicativo foi o índice de produção industrial no Estado. Na crise, em janeiro deste ano, a produção tombou 33,2%, sentindo os efeitos da queda na mineração, siderurgia e também do setor de papel e celulose.

O que ficou de prova desse crime ambiental foram as telas do renomado artista plástico Kléber Galveas. Ele, há 13 anos, pinta telas com pó de minério e vem garantindo que essa matéria prima de seus trabalhos artísticos não tem faltado, pelo contrário.

"Em 1997, na primeira edição do projeto, a Vale (nossa colaboradora, fornecedora da matéria prima) era uma empresa estatal.  Esse projeto é uma provocação artística à poluição causada pela empresa. Ele é desenvolvido todos os anos no mesmo período, lugar, posição, materiais, procedimentos e tempo. Como é rigoroso o controle destes fatores podemos comparar os resultados, ano a ano, e perceber a evolução da poluição atmosférica em nossa região, que está cada vez maior", provoca o artista plástico Kléber Galveas.

A próxima vítima
Essa situação vivida pela população da Grande Vitória está indo para o município de Anchieta. Está prevista a ida de um grande projeto siderúrgico da Vale – que inclui também um porto – e a expansão do atual parque industrial da Samarco com a construção da quarta usina. A previsão é de que se repita na região o mesmo processo visto no Complexo de Tubarão, responsável, por exemplo, pelo crescimento de 368%, em 30 anos, do município da Serra.

Em Anchieta, a previsão de que o município passe de 20.226 habitantes para 100 mil habitantes em sete anos. O Plano de Desenvolvimento para o Espírito Santo, prometido pelo governo do Estado, sequer foi iniciado na região e a informação é que a Vale vai produzir na região os mesmos 5 milhões de toneladas/ano de ferro que a gigante chinesa Baosteel pretendia para a região. Só a área industrial do município já ocupa 35% do território.  Na região, os níveis máximos de poluição também já foram atingidos.

O que se vê, portanto, nada mais é do que a continuidade de um processo de sedução iniciado no passado para aumentar os lucros das grandes indústrias, em detrimento da qualidade de vida. Além da Vale, encontram-se em fase de expansão a Arcelor Mittal, a Samarco Mineração S.A., a Petrobras e a Fibria (ex-Aracruz Celulose).

(Por Flavia Bernardes, com colaboração de Rogério Medeiros e Nerter Samora, Século Diário, 19/09/2009)


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