Em enquete global feita com 500 companhias, sete representantes brasileiras ganham média baixa
Apesar de se declararem preocupadas com as mudanças climáticas, as empresas brasileiras pouco têm feito para contabilizar e reduzir suas emissões de gás carbônico, o principal gás de efeito estufa. A conclusão é de um relatório a ser divulgado nesta segunda (21/09), que avalia as ações climáticas das 500 maiores empresas do mundo.
O chamado relatório Global 500 é produzido anualmente pelo CDP (Carbon Disclosure Project), ONG que representa grupo de 475 grandes investidores. Esse grupo, cujos ativos somam US$ 55 trilhões, manda questionários às grandes empresas pedindo informações sobre seus inventários de emissão de gases-estufa e suas ações para reduzi-los. As respostas são totalmente voluntárias.
O questionário deste ano foi enviado a sete empresas brasileiras. A boa notícia é que 100% delas responderam -a média global foi de 82%. A má é que o grau de transparência médio das empresas foi baixo: no índice criado pelo CDP, o Brasil teve 46 pontos numa escala de 100, acima apenas de China, Taiwan e Cingapura.
A Petrobras, das sete empresas brasileiras (AmBev, Vale, Itaú, Bradesco, Eletrobrás e Banco do Brasil), foi quem teve o pior desempenho, ao lado do Itaú (44 pontos). A estatal optou por divulgar dados de suas emissões só para investidores. "Não é um resultado espetacular em relação ao mundo. Muitas empresas têm desempenhos mais altos. Mas, para um mercado emergente, como o Brasil, é um resultado razoável", disse à Folha Paul Simpson, coordenador do relatório.
A Vale, por outro lado, teve 74 pontos, mais do que a média das empresas dinamarquesas -um índice considerado "impressionante" por Simpson. Segundo ele, as empresas de mercados emergentes, como Brasil e China, não têm obrigação de reportar ou controlar suas emissões, já que esses países estão desobrigados de metas pelo Protocolo de Kyoto.
Pela primeira vez, o CDP incluiu no relatório um índice de desempenho. Ele mede se as empresas adotam metas, se dialogam com os formuladores de políticas públicas e se produzem inovação tendo em vista mudanças climáticas. Nesse quesito, as brasileiras também vão mal, na média: têm 38 pontos, abaixo das indianas.
O relatório mostra aumento no interesse das empresas em reportar suas emissões. A taxa de resposta mundial subiu de 77% em 2008 para 82%, apesar da crise. "Isso mostra que a mudança climática está ficando mais importante para os negócios", disse Simpson. Também aumentou o número de empresas que declaram suas metas de redução de emissões: foram 257 (51% do total) contra 206 (41% do total) no ano passado. Os empresários, segundo o CDP, estão buscando tanto vantagens de mercado -como ganhos de eficiência- quanto de marketing, mas também querem se antecipar a regulamentações futuras.
(Por Claudio Angelo, Folha de S. Paulo, 21/09/2009)