O plano de expandir o grupo EBX nos próximos quatro anos não é suficiente para satisfazer a ambição de Eike Batista. O bilionário está disposto a lutar para ser sócio no bloco de controle da Vale, a segunda maior mineradora do mundo. Nos anos 60 e 70, estatal, a Vale foi comandada por Eliezer Batista, pai de Eike. Três décadas depois, o filho sonha assumir a direção da gigante da mineração, com valor de mercado perto de R$ 200 bilhões.
Homem de mercado, investidor agressivo, Batista antevê potencial na companhia para dobrar seu valor de mercado em cinco anos, como confidenciou a amigos próximos. Ele tem muitas ideias para a Vale. Uma delas é uma oferta de compra pela ferrovia ALL. A aquisição dotaria a empresa de rede ferroviária nacional integrada no país. Outro sonho é de fortalecer o braço de petróleo da Vale com a OGX, empresa de petróleo e gás da EBX. Nesse clima de empolgação Eike Batista parte para segunda investida para chegar ao topo da empresa.
Depois de ter levado uma recusa do Bradesco à sua proposta de compra da Bradespar, o empresário iniciou conversas com a Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil e maior acionista da holding Valepar, que controla a mineradora. Ele está disposto a adquirir 25% da fatia do fundo de pensão, apurou o Valor. Esse percentual dá direito de veto ao sócio no bloco de controle. Apenas a Previ tem direito de veto na Valepar porque os demais têm fatia inferior a 25% (a Bradespar com 21,1% do capital votante, a trading japonesa Mitsui, 18,5%, a BNDESPar com 12,5% e o Eletron - Opportunity -, com 0,029%).
Nesse clube fechado, a Previ participa por meio do veículo Litel com mais três fundos: Funcef, Petros e Funcesp. A Litel é controlada pela Previ com 81,15%, enquanto os outros três fundos detém juntos 18,85%. A Litel tem 48,79% no capital votante da Valepar e mais 4,68% num outro pequeno veículo Litel A, o que soma uma fatia de 53,47% da Litel na Valepar. Mas a Litel só pode votar na Valepar com 48,79%. O acordo diz que os acionistas não podem deter mais de 49% da Valepar.
Por isso, as ações que excedem esse percentual em poder da Previ se encontram na Litel A, um veículo criado para abrigá-las como preferenciais. Mas se elas forem vendidas, voltam a ser ordinárias, conforme reza acordo feito com a Previ. Os três fundos de pensão que detêm participações na Litel (a maior participação é da Funcef, com 11,65%) não têm autonomia para vender sua fatia na Valepar sem o "sinal verde" da Previ.
Mesmo que eles estejam dispostos a fazê-lo, informaram interlocutores ligados aos controladores da Vale, qualquer mudança nessa regra só com um novo acordo de acionista da Valepar, o que poderá ocorrer em 2017. Isoladamente, a Previ participa indiretamente com 23,51% do capital votante e 14,71% do capital total da Vale.
É nesse emaranhado acionário que Batista pretende garimpar sua participação no controle da Vale. Ele já esteve na sede da fundação, numa primeira rodada de entendimentos. Depois de oferecer R$ 9 bilhões ao Bradesco pelas ações da Bradespar e ter sua proposta recusada, Batista pretende oferecer à Previ um prêmio de controle de 15% para fechar o negócio. A Previ é uma fundação "desenquadrada" nos seus investimentos em renda variável. Segundo as regras da Secretaria de Previdência Complementar (SPC) todo fundo de pensão deve investir até um limite máximo de 50% de seus negócios em renda variável e a Previ tem 60%. Mas a SPC deu um prazo até 2014. A questão do desenquadramento da Previ é chave nas conversas com a equipe de Batista.
Para entrar na Vale, Eike Batista, mesmo contando com apoios dentro do governo, que os interlocutores preferem não nomear, vai ter que enfrentar desafios, como a alergia do governo aos estrangeiros. Ele está vendendo parte da MMX, sua mineradora, para os chineses. É preciso saber se esse tipo de parceria seria bem vinda na Vale. Ciente dos obstáculos, Eike Batista contratou quatro bancos para assessorá-lo na negociação com a Previ: Santander, Itaú, Credit Suisse e o BTG , de André Esteves.
Nesta segunda (21/09), em Nova York, Batista será anfitrião de um jantar em homenagem ao presidente Luiz Inácio da Silva, juntamente com o presidente mundial da ExxonMobil. Certamente, nesse encontro, terá um tempo para falar à Lula de suas pretensões na Vale.
(Por Vera Saavedra Durão, Valor Econômico, 21/09/2009)