Um acordo anunciado ontem representa uma ótima notícia para os países preocupados com um problema crescente no planeta – o do lixo produzido no Primeiro Mundo e “exportado” para o Terceiro. A empresa britânica de comércio de petróleo Trafigura Beheer BV aceitou pagar uma indenização de US$ 45 milhões (R$ 81,3 milhões) a aproximadamente 30 mil moradores da Costa do Marfim que teriam ficado doentes depois que toneladas de lixo tóxico foram despejadas nas proximidades de Abidjan, capital do país africano, em 2006.
O valor equivale a aproximadamente US$ 1,5 mil (R$ 2,7 mil) por vítima. Uma porta-voz da Trafigura confirmou o acordo, mas negou que o lixo tenha causado problemas sérios. Em julho deste ano, o Brasil também foi vítima de manobra semelhante protagonizada por outra empresa britânica.
No caso da Costa do Marfim, o lixo químico gerado pela Trafigura – uma mistura perigosa de gasolina e soda cáustica, usada para a limpeza de maquinário pesado – foi transportado para a África pelo petroleiro Probo Koala. Em agosto de 2006, caminhões despejaram o material em 15 locais em torno da capital. Nas semanas seguintes, milhares de pessoas relataram uma série de sintomas semelhantes, incluindo problemas respiratórios, vômito e diarreia.
A empresa reconhece apenas que o lixo poderia ter causado “sintomas parecidos com os de uma gripe fraca, além de ansiedade”. Segundo a Trafigura, não há provas de que tenha provocado mortes, abortos, defeitos de nascimento ou outros problemas sérios. Na última quarta-feira, porém, um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) indicou uma forte ligação entre pelo menos 15 mortes e o lixo. A Trafigura classificou o documento de “prematuro e equivocado”.
– Estamos abismados com a falta de rigor analítico no relatório – diz um comunicado da multinacional.
Em 2007, a Trafigura já havia pago 152 milhões de euros (R$ 404,8 milhões) ao governo da Costa do Marfim para ajudar na limpeza, mas não admitiu sua responsabilidade no caso, alegando que o lixo fora despejado por uma empresa local que agia de forma independente. Em outubro de 2008, dois funcionários municipais envolvidos no escândalo foram condenados a penas de 20 e de cinco anos de prisão.
Londres
Brasil recebeu 1,4 mil toneladas em julho
- Em julho deste ano, 89 contêineres de lixo foram encontrados nos portos de Santos (SP) e Rio Grande (abaixo) e m Caxias do Sul.
- Supostamente exportados para o Brasil pelas empresas britânicas Worldwide Biorecyclables e UK Multiplas Recycling, os carregamentos eram compostos principalmente por detritos domésticos e hospitalares.
- As cerca de 1,4 mil toneladas de lixo foram embarcadas de volta à Grã-Bretanha no dia 21 de agosto, quase um mês depois da sua descoberta.
- Na época, três homens foram presos na cidade de Swindon em conexão com o caso, mas libertados após pagar fiança.
(Zero Hora, 21/09/2009)