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amianto eternit
2009-09-21

Quatro telhas, uma caixa d'água, cansaço, dificuldade para respirar, noites mal dormidas e pigarros de cinco em cinco minutos representam o que resta do amianto na vida do aposentado Nivaldo da Silva Simões, de 64 anos. Por 19 anos e seis meses ele trabalhou fabricando juntas de vedação na fábrica da antiga Asberit, em Colégio, Zona Norte do Rio, onde ficava exposto à poeira da fibra durante as suas 14 horas diárias de jornada. Em 1994, seis anos depois, ele descobriu que estava com asbestose, uma das doenças pulmonares causada pela aspiração do pó de amianto ou asbesto, e até hoje sofre com as consequências da doença. Ele tem medo de terminar como seus antigos colegas de trabalho.

— Eram 62 pessoas no turno da manhã e 62 no da tarde. Esse pessoal quase todo já morreu — lamenta. — Pelo pigarro, parece que eu fumei a vida toda, mas nunca botei um cigarro na boca.

O uso do amianto é proibido no Rio pela lei estadual 3579/01, mas a lei federal 9055/95 permite o amianto crisotila (branco). No fim de agosto, a Eternit, uma das cinco empresas do estado que utilizam a fibra, foi proibida de comercializar qualquer produto que contenha a substância dentro do Rio por uma decisão da 20ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça. Agora, o Ministério Público abriu mais dois inquéritos para investigar as outras quatro empresas e 12 estabelecimentos que comercializariam e distribuiriam produtos que contêm amianto.

— Vamos fazer valer a lei estadual e fiscalizar a comercialização a fim de verificar se os produtos, de fato, pararam de ser fabricados — explicou o promotor Júlio Machado.

Além de Nivaldo, seus três irmãos e dois primos também estão com asbestose. Eliseu Simões, de 50 anos, demostra cansaço só de falar. Os dois movem uma ação contra a empresa há oito anos.

— Só ao me secar, depois do banho já me sinto cansado. Trabalho na Comlurb e já mudei de função três vezes. Não aguentei varrer nem capinar.

Segundo dados da Fiocruz, em 20 anos morreram pelo menos 2.414 pessoas no Brasil de mesotelioma — uma das doenças mais graves provocadas pelo amianto. De acordo com o pneumologista da Fundação, Hermano Albuquerque de Castro, dos 300 trabalhadores que são acompanhados hoje pela Fiocruz, 12% têm comprometimento nos pulmões.

O advogado Leonardo Amarante, que acompanha processos judiciais de 50 vítimas do amianto e familiares, diz que muitos morrem antes mesmo da decisão. A Eternit informou que ainda não foi notificada oficialmente da decisão e que, como até o momento não foi publicado o acórdão, a empresa continua a operar normalmente. O Grupo prefere aguardar o acórdão para se posicionar sobre o assunto.

O que é
O amianto ou asbesto é o nome comercial adotado para um conjunto de minerais fibrosos constituídos de silicato de magnésio, que é utilizado em, aproximadamente, 3 mil produtos industriais.

Onde está?
O material é utilizado na construção de telhas, caixas d'água, tubulações, divisórias, painéis acústicos e resistentes ao fogo, pisos, forros etc. Tanto na produção como na manutenção, utilização e demolição de materiais contendo amianto, há o risco de se liberar poeira contendo fibras no ambiente. As fibras podem ter dimensões tão pequenas que são imperceptíveis a olho nu.

Mundo
O amianto é proibido em 51 países, entre eles França, Alemanha, Itália, e Argentina

Doenças
As doenças provocadas pela poeira do amianto podem levar anos para se manifestar. Elas são incuráveis e progridem mesmo que não se tenha mais contato com a substância. As malignas são: câncer de pulmão, de laringe, do aparelho digestivo e mesotelioma de pleura e de peritônio. As não malignas são: asbestos, as doenças pleurais, derrames e espessamentos pleurais e de diafragma.

(Por Isabella Guerreiro, Extra Online, 19/09/2009)


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