Ao decidir seguir a linha política de que a que reforma agrária no Rio Grande do Sul não é apenas assentar colonos na terra, Mozar Dietrich, superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforna Agrária (Incra), se tornou alvo da Frente de Massas (FM), setor que cuida de conseguir militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
A FM quer que o Incra assente desempregados urbanos como se fossem sem-terra. Dietrich está dizendo não. O enfrentamento não vem de agora. Ao decidir organizar os cadastros do Incra, separando quem tem ligações com a terra das pessoas que não possuem tal vínculo, Dietrich optou por seguir a trilha da coerência política agrária, mas contrariou as pretensões da FM.
Há um bom tempo, a luta pela terra não é mais a principal preocupação dos líderes da organização. A prova desta conduta é a destruição do prédio do Incra e o furto de equipamentos do patrimônio público. Parte da explicação para esse comportamento emergiu no meio do entulho deixando no prédio: um caderno. Ali foram anotados os resultados das reuniões.
O seu conteúdo mostra claramente que a grande preocupação não é com o destino daquelas famílias que estão acampadas à beira da estrada, esperando um lote de terras. O alvo é outro. Apostam no confronto durante o despejo como uma maneira de abrir caminho na opinião pública para vender suas ideias políticas.
Pelas anotações, eles acreditam que a morte do sem-terra Elton Brum da Silva, alvejado pelas costas por um policial militar durante uma ação de despejo em São Gabriel, funcionará como escudo para desafiar ordens judiciais. A soma do cenário de destruição deixada pela invasão do prédio e as anotações das atas das reunião encontradas no caderno sinalizam para um futuro provável do MST no Rio Grande do Sul: a divisão, que foi mostrada em reportagem de ZH no domingo passado.
De um lado a Frente de Massas (FM). Do outro lado, a direção do MST, um grupo de burocratas mais preocupado em agradar João Pedro Stedile, eterno assessor político da organização. As divergências devem ser ainda mais agravadas pelo ano eleitoral que vem aí.
(Zero Hora, 21/09/2009)