A análise de 65 bebidas à base de soja de 11 marcas realizada em pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP aponta que produtos feitos apenas com isolado proteico ou extrato de soja têm teor de isoflavonas até cinco vezes maior que a mistura de soja e suco de frutas. A diferença se deve a maior quantidade de proteínas nas bebidas elaboradas apenas com soja. A presença das isoflavonas em bebidas de soja vendidas na cidade de São Paulo foi estudada pela nutricionista Kátia Rau de Almeida Callou.
Estudos epidemiológicos em culturas de células e experimentos em animais indicam ação das isoflavonas na redução de risco de câncer, osteoporose e doenças cardiovasculares. “O trabalho caracterizou as bebidas de soja quanto ao teor de isoflavonas, capacidade antioxidante e teor protéico”, aponta Kátia. Os produtos analisados foram divididos em quatro grupos: bebidas com extrato de soja e suco de fruta; com isolado protéico e suco de fruta; com extrato de soja e aromatizantes; e feitas com isolado protéico e aromatizantes.
As bebidas com suco de fruta apresentam menor teor de proteínas, entre 1 e 3 gramas (g) para cada 200 mililitros (mL) do produto. Em conseqüência, a presença de isoflavonas variou de 1 miligrama (mg) a 5mg/200 mL no grupo elaborado com extrato de soja, e entre 0,6mg a 2,4mg/200 mL no produto com isolado protéico. “De acordo com especialistas, a variedade do grão de soja, a localização do cultivo, as características genéticas e a época de plantio influenciam o teor de isoflavonas em produtos de soja”, explica a pesquisadora, “bem como o processamento industrial para obtenção do derivado proteico pode ter a concentração do composto”.
Nos produtos que tiveram apenas a adição de aromatizantes, o teor proteico variou entre 5g e 6g a cada 200 mL. “Assim, no terceiro grupo, a quantidade de isoflavonas ficou entre 6 e 13 miligramas, enquanto no quatro grupo, ela oscilou entre 4mg e 10 mg”, conta Kátia.
Benefícios
A nutricionista verificou se a quantidade de isoflavonas nas bebidas seria suficiente para proporcionar possíveis efeitos benéficos à saúde humana, a partir de informações disponíveis na literatura científica. “No caso dos dois primeiros grupos, o teor é muito baixo”, ressalta. “No entanto, para atingir o consumo diário de isoflavonas da população asiática, equivalente a 40 mg a 80 mg por dia, seria necessária a ingestão de 1 litro ou mais das bebidas de soja dos grupos 3 e 4, o que não deve ser feito para evitar desequilíbrios na dieta”.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomenda o consumo diário de 25 gramas de proteína de soja. “Entretanto, há pesquisas indicando que a ingestão de 10g a 15 g por dia já traz benefícios à saúde, o que poderia ser conseguido com dois copos das bebidas dos grupos 3 e 4”, afirma Kátia. “Serão necessários mais estudos clínicos para entender a ação das isoflavonas no organismo, além da influência da quantidade e forma com que a proteína de soja é administrada”.
As isoflavonas são compostos fenólicos resultantes do metabolismo secundário das plantas, que apresentam estrutura semelhante ao estrógeno (hormônio feminino). “Devido a essa semelhança, as isoflavonas parecem estar relacionadas à redução de riscos em algumas doenças relacionadas a hormônios, como cânceres de mama e de próstata, além da osteoporose e de doenças crônicas, especialmente as cardiovasculares”, conta Kátia.
Segundo a pesquisadora, trabalhos que avaliem o teor de isoflavonas destes produtos são escassos na literatura científica, além de também existirem lacunas quanto ao conteúdo proteico das bebidas nas tabelas nacionais de composição de alimentos. A pesquisa faz parte da dissertação de Mestrado de Kátia Rau, orientada pela professora Maria Inés Genovese, do Laboratório de Química e Bioquímica de Alimentos da FCF.
“Apesar da alta produtividade e das propriedades nutricionais e funcionais da soja e seus derivados protéicos, eles ainda são pouco consumidos no Brasil”, conta Kátia. “A crescente popularidade das bebidas de soja poderá ser uma alternativa para incluir as isoflavonas na alimentação”.
(Por Júlio Bernardes, Agência USP de Notícias / EcoDebate, 21/09/2009)