Imagine a Ilha de Santa Catarina daqui a 10 ou 15 anos. Será que os rios, matas e o solo suportarão a poluição, crescimento desordenado e ocupações? O cenário atual já é ruim, aponta o diagnóstico ambiental das bacias hidrográficas de Florianópolis divulgado na sexta-feira (18/09) pela Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (Acif). A entidade patrocinou o estudo, feito por pesquisadores da Associação Brotar e Crescer.
Em cinco meses, foram analisadas a qualidade da água, uso do solo e ocupações. O engenheiro agrônomo Augusto Neves Pêgas Filho, coordenador do trabalho, avalia que a situação é extremamente preocupante em relação às bacias do Itacorubi e Rio Tavares (detalhes no mapa).
– Os rios apresentaram níveis de oxigênio baixos. Isso revela a poluição provocada pelo homem, principalmente de esgoto doméstico lançado diretamente nos rios – ressaltou.
Áreas cujo problema de poluição já é conhecido também foram pesquisadas, como a Lagoa da Conceição e o Rio Capivari, no balneário de Ingleses, Norte da Ilha. O presidente da Acif, Doreni Caramori Júnior, diz que o diagnóstico foi entregue à Fundação Municipal do Meio Ambiente (Floram), Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina (Fatma) e à Câmara de Vereadores.
Ele defende ação conjunta do poder público com ambientalistas e entidades para a proteção dos recursos naturais. Sobre o estudo incentivado pelo empresariado, argumenta que uma das intenções era acabar com o monopólio de informações sobre a poluição que afeta a Ilha.
No documento, os autores sugerem a criação de um plano municipal de habitação, saneamento básico e de drenagens consistentes. Também recomendam a retirada das famílias que vivem ao lado dos rios e áreas de preservação, como dunas e áreas de mata nativa.
Aumento da população agrava danos
O estudo alerta que problemas sociais e que a expansão urbana da Capital interferem no meio ambiente O diagnóstico mostra que, de 2000 a 2006, Florianópolis teve 64 mil novos moradores. No período, a população passou de 342 mil habitantes para 406 mil. No Norte da Ilha, duas situações mostram como o social e o meio ambiente se chocam: a ocupação em meio às dunas na favela do Siri, em Ingleses, e nas margens do Rio Papaquara, em Canasvieiras. São dezenas de famílias que sobrevivem de atividades na área de preservação ambiental, a maioria ligada à reciclagem de papelão. Um drama que também é considerado de saúde pública.
O secretário de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente de Florianópolis, José Carlos Rauen, afirma que há dificuldades para a retirada dos moradores e acredita que só com uma decisão judicial o poder público poderá agir. Rauen aprova a iniciativa da Acif no diagnóstico das bacias hidrográficas, mas diz que críticas não bastam. É preciso colaboração.
Investimento da Casan chega a R$ 100 milhões
De acordo com o secretário, a poluição no Itacorubi e Rio Tavares se deve à falta da coleta de esgoto. Segundo a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan), o problema está sendo amenizado com um investimento de R$ 100 milhões em obras na região.
Rauen defende a moratória por dois anos na região do Itacorubi para o poder público organizar a infraestrutura do local. Mas a medida ainda não foi aprovada pela Câmara. A prefeitura de Florianópolis ainda não concluiu o novo plano diretor da cidade, outra medida que pode influenciar no futuro da Ilha. Já o recém-aprovado plano de gerenciamento costeiro deverá entrar em vigor em, no máximo, 90 dias.
O secretário garante que a liberação de ações turísticas, como os esportes náuticos, não será tarefa exclusiva do município. Sairá em decisão com ambientalistas de ONGs e os técnicos do poder público.
Leia aqui a íntegra do diagnóstico sobre as bacias.
(Por Diogo Vargas, Diário Catarinense, 20/09/2009)