No dia 20 de setembro de 1985, renunciou o então ministro francês da Defesa, Charles Hernu, devido ao afundamento do navio Rainbow Warrior na Nova Zelândia. O navio Rainbow Warrior afundara parcialmente no porto de Auckland, na Nova Zelândia, preso às amarras e fortemente adernado. O português Fernando Pereira, fotógrafo e ativista do Greenpeace, morreu afogado no interior inundado do navio.
Stephen Sawyer, membro da tripulação do barco, reclamou: "Eles poderiam ter telefonado 10 minutos antes. Eles não se preocuparam nem um pouco se alguém seria morto ou não. Tivemos sorte que só uma pessoa morreu. Poderiam ter sido muitas mais." Poucas horas depois do ocorrido, já se sabia que não fora um acidente, mas sim um ato de sabotagem, a causa do afundamento com consequências fatais. Mas quem estaria por trás de tudo?
Casal a serviço do serviço secreto francês
Poucos dias depois, numa praia próxima, foram encontrados um barco inflável e equipamentos de mergulho: o mesmo tipo de aparelhagem utilizada pelos militares franceses. Isto reforçou cada vez mais a suspeita de que a explosão do Rainbow Warrior havia sido obra dos franceses.
Foi preso um casal, visto com frequência nas proximidades do navio do Greenpeace. Os dois portavam passaportes suíços falsos. Logo ficou constatado que o casal trabalhava para o serviço secreto francês. Mas que interesse poderia ter Paris em tal ato de terrorismo? Meses antes, já estava certo que o Greenpeace iniciaria ações de protesto contra os testes atômicos franceses no Pacífico sul, na região do atol de Mururoa. Também o Rainbow Warrior, uma espécie de nau capitânia da organização ecologista, deveria participar dos protestos.
Segundo um relatório do serviço secreto francês, ao lado dos ativistas conhecidos, até mesmo comunistas e rebeldes polinésios que lutavam pela independência, estariam então a bordo do navio. Como não se queria que isso acontecesse, foi decidido que o Rainbow Warrior seria explodido no porto de Auckland: uma ação secreta, da qual participou um grupo de agentes franceses.
Sindicância a contragosto
Apesar de os indícios apontarem, com clareza cada vez maior, em direção a Paris, o governo francês negava tudo, alegando ser tudo mentira produzida com muita fantasia. Mas a imprensa francesa continuou insistindo na apuração dos fatos. E também a Nova Zelândia, há anos insatisfeita com os testes atômicos franceses em Mururoa, exigia um esclarecimento. A contragosto, Paris ordenou uma sindicância. Um mês e meio depois do ato de terrorismo foram apresentados os resultados do inquérito.
O então primeiro-ministro neozelandês David Lange comentou com escárnio o conteúdo do relatório: "Ele é tão transparente, que não se pode nem dizer que inocentou a todos. Ele ignora os fatos, se contradiz nas partes decisivas. Creio que se pode afirmar de sã consciência que ele ainda será muito vexaminoso para o governo francês. Eles criaram com isto uma bomba-relógio que pode explodir a qualquer momento."
E foi o que ocorreu. Questionava-se, de maneira cada vez mais insistente, quem teria dado a ordem para o atentado. Teria sido o ministro da Defesa Hernu? Ele negou qualquer participação. No entanto, os indícios mostravam que Hernu tinha, no mínimo, conhecimento prévio da ação e que provavelmente teria dado a ordem para a sua execução.
Demissão do ministro
O governo do então presidente François Mitterrand estava enterrado até o pescoço no escândalo. O primeiro-ministro Laurent Fabius tinha de agir e demitiu então o ministro da Defesa Charles Hernu. Isto ocorreu em 20 de setembro de 1985.
Fabius foi além disto. Ele admitiu a participação da França no atentado. Mas quis desculpar os responsáveis diante da imprensa: "Foram agentes do serviço secreto francês que explodiram o navio. Eles cumpriram ordens. É preciso resguardar os órgãos executores da ação, pois não podemos aceitar que sejam comprometidos os soldados que apenas obedeceram ordens e que, no passado, executaram missões perigosas pelo nosso país."
Uma pergunta permaneceu sem resposta: Quem deu realmente a ordem para o ato de sabotagem? Estaria, quem sabe, o próprio chefe de Estado francês por trás do atentado contra o Rainbow Warrior? Do Ministério da Defesa extravasou, pouco depois, a notícia do desaparecimento de partes importantes do dossiê do Greenpeace.
Somente anos mais tarde é que alguns conhecedores dos segredos estatais da época manifestaram-se sobre o assunto: a ordem teria sido dada pelo Ministro da Defesa, com a aprovação prévia do presidente François Mitterrand.
(Por Oliver Ramme, Deutsche Welle, 20/09/2009)