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2009-09-18

O fechamento de dezenas de madeireiras na região de Altamira, no oeste do Pará, pelo Ibama, no último ano, provocou a perda estimada de cerca de 30 mil empregos em uma área em que o número de habitantes não chega a 350 mil. O comércio foi afetado. Quase não há indústrias na região e os moradores sobrevivem basicamente da pecuária, da pesca e do cacau. Neste cenário, em que não existem grandes perspectivas de geração de emprego, é na usina hidrelétrica de Belo Monte que boa parte da população vê a solução para todos os males.

Com uma história de exploração da madeira, em que muitas serrarias clandestinas contribuíram para o desmatamento da região, a maior parte dos habitantes das onze cidades que serão afetadas pelas obras da barragem preocupam-se mais com o progresso que podem desfrutar do que com os efeitos que a obra pode trazer à Floresta Amazônica e a um de seus principais rios, o Xingu. Eles acreditam que finalmente o asfalto para os cerca de 400 quilômetros da Transamazônica, que ligam a região à Marabá, chegará na esteira da hidrelétrica, atraindo indústrias e com isso gerando emprego.

Mas o preço a se pagar por este progresso, principalmente para a cidade de Altamira, a maior da região, é incalculável. Já se sabe, por exemplo, que um bom pedaço da cidade ficará debaixo d'água, obrigando o remanejamento de cerca de 20 mil pessoas que hoje estão instaladas próximas aos igarapés. A paisagem ao longo da bonita orla vai mudar para sempre, pois as ilhas cobertas de árvores vão desaparecer do cenário. Como diz Augusto Ribeiro, dono de uma farmácia e que no domingo passado almoçava com sua esposa no restaurante O Tucanaré, aproveitando a vista, o brilho de Altamira vai sumir.

Assim como também vão sumir uma série de praias que hoje são o principal lazer dos cerca de 100 mil habitantes da cidade, sendo que boa parte se concentra no norte da cidade. Altamira é curiosamente a maior cidade do mundo, em território, o que se ouve o tempo todo ao circular pelas ruas. Os peixes também serão afetados e a pesca vai ficar mais difícil, principalmente para os habitantes dos igarapés que fazem dessa atividade sua principal fonte de renda. A criminalidade tende a aumentar, com a chegada de outros tantos imigrantes. O estudo de impacto ambiental prevê pelo menos 96 mil novos moradores para a região, mas acredita-se que esse número seja muito maior. E esses novos moradores vão chegar mais capacitados.

A dona de uma das principais lojas de móveis sob medida da cidade, Jakilini Avelino, diz que hoje já é difícil encontrar pessoal qualificado até mesmo para uma vaga de vendedor. "As pessoas em Altamira não estão preparadas e não estão se preparando para competir com os imigrantes", diz Jakilini. As autoridades locais até se preocupam com a questão, mas o pacote de capacitação para a região está atrelado ao leilão da usina e ao edital de licitação.

A prefeita de Altamira, Odileida Maria de Sousa Sampaio (PSDB), reivindica a abertura de novos cursos na Universidade Federal de Altamira, com os de Medicina e Direito. "Para contratarmos médicos para a cidade temos que oferecer salários de até R$ 20 mil e mesmo assim é difícil atrair esse tipo de profissional", diz a prefeita. Pelas estimativas apresentadas no estudo de impacto ambiental, serão 18,7 mil empregos diretos para a construção da hidrelétrica no auge da obra. Durante as audiências públicas realizadas na região entre quinta-feira da semana passada e domingo, a estimativa é de outros 10 mil empregos indiretos. O problema é que o prazo de duração da obra é de dez anos e já a partir do quinto ano, o número de vagas começa a cair.

Enquanto o leilão não chega, o nivelador Deivisson da Silva, de 26 anos, desempregado há três meses, joga vídeo game com seu filho em sua casa, próxima ao Igarapé Altamira. Silva não está preocupado porque sabe que seu emprego está garantido quando as obras da usina começarem. Ele já trabalhou como nivelador topográfico para algumas das principais construtoras do país e recentemente voltou de Juriti, cidade paraense, onde trabalhou nas obras da mina de bauxita da Alcoa. "Até recebi proposta para trabalhar em Jirau (usina que está sendo construída no rio Madeira), mas eram apenas dez dias de folga para seis meses de trabalho", conta. "E o salário não compensava a mudança".

Além de querer a obra porque entende ter emprego garantido, Deivisson da Silva também quer receber a indenização pela sua casa, que terá que ser deslocada. Mas ele é um dos poucos da comunidade confiante na mudança. As pessoas do Igarapé Altamira estão assombradas com a possibilidade de não receberem nenhuma indenização ou serem alocadas em regiões distantes do centro da cidade, com difícil locomoção.

Maria Fé da Silva Rodrigues, de 70 anos, profissional de limpeza aposentada, diz que se todo mundo pensasse como ela essa usina não sairia do papel. "Mas contra a lei não há resistência", diz ela, resignada. Apesar de morar numa casa à beira do igarapé, que na enchente de abril deste ano foi atingida e a cozinha levada embora, ela teme o valor da indenização que será oferecido pela sua casa. "Veio um engenheiro aqui cuidar da ponte outro dia, que caiu por causa da enchente, e disse que minha casa não vale mais do que R$ 5 mil", conta "dona" Maria Fé. "Ora, moro aqui há 40 anos e todo ano invisto um pouquinho na minha casa."

O que assombra "dona" Maria Fé, católica praticante, e outros habitantes da região é o fantasma de Tucuruí. A usina que foi construída na cidade de mesmo nome, também no Pará, teve um impacto ambiental tremendo na região, demorou a pagar as indenizações para os moradores que tiveram que ser realocados e, segundo contam alguns altamirenses, a hidrelétrica não atraiu nenhuma indústria para a região e só instalou a violência. Esse discurso amplamente repetido é o mesmo usado pelos representantes da igreja católica na região, que são contra a usina.

Reportagens na televisão ligada à igreja católica são amplamente repetidas sobre os problemas da usina de Tucuruí e que o mesmo pode acontecer agora com os moradores de Altamira. O Pará é um estado extremamente católico e em sua capital, todo segundo domingo do mês de outubro, milhões se reúnem para a comemoração do Círio de Nazaré. O padre Vicente Zambello, ítalo-brasileiro que reza suas missas na paróquia de Vitória do Xingu, diz que além do impacto ambiental o impacto social é muito grande. "Podemos ter a energia dos ventos, sem esse impacto social, por que então construirmos hidrelétricas?", questiona.

Com exceção dos movimentos sociais, organizações não governamentais e do Ministério Público, que ainda lutam para derrubar o projeto, a população que há trinta anos ouve falar da usina acredita que ela já é fato consumado. Com tantos problemas estruturais, mais de 70% das cidades não tem saneamento e água encanada, a preocupação das prefeituras agora é garantir que o edital de licitação inclua obrigações de investimentos na região. Só a cidade de Altamira requer R$ 1,5 bilhão em compensações. Alguns grupos que estudam o projeto estimam que cerca de R$ 3 bilhões dos investimentos totais serão destinados às compensações e indenização das famílias que serão realocadas.

Com tanto dinheiro injetado na economia local, não há dúvidas de que pelo menos no curto prazo será grande a geração de empregos e obras de infraestrutura. Resta saber o que o tempo dirá sobre os impactos ambientais que uma obra da magnitude da usina de Belo Monte irá causar.

(Por Josette Goulart, Valor Econômico, 18/09/2009)


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