Os biólogos que há quase uma década mapeiam os impactos ambientais dos aerogeradores sobre a fauna litorânea já não escondem: o “vuvu” contínuo das pás dos supercataventos de Osório desnorteia os morcegos, que aparecem agora na história como os grandes esquecidos dos estudos preliminares, focados principalmente nas aves migratórias.
A quantidade de morcegos mortos nas vizinhanças dos cataventos é um indicador de que o assunto merece atenção. Afinal, esses bichinhos se alimentam de insetos e atuam como dispersores de sementes. Quais as consequências do seu parcial desaparecimento na biodiversidade dos locais escolhidos para a implantação de parques eólicos no Rio Grande do Sul? Só o tempo dirá, mas é claro que cataventos não deixarão de ser construídos.
É até natural que os morcegos tenham sido “esquecidos” nas pesquisas anteriores à construção do primeiro parque eólico gaúcho: eles só voam no escuro e praticamente não são vistos de dia, ao contrário das aves migratórias e outros bichos diurnos. Mas o “apagão” em relação à morcegada não serve como desculpa, pois um dos bichos pesquisados previamente nos estudos de impacto ambiental dos parques eólicos foi o tuco-tuco, mamífero abundante e pouco visível na paisagem do litoral gaúcho, onde vive entocado.
A evidência de que os morcegos são afetados pelo “vuvu” dos cataventos colocou esses mamíferos alados na agenda dos pesquisadores que há três anos monitoram a bem-sucedida operação dos cataventos da Ventos do Sul em Osório. Como de costume desde a construção desse parque eólico, é tudo confidencial.
Os contratos de prestação de serviços entre os biólogos e as empresas energéticas impedem que o assunto seja muito ventilado, mas alguma coisa sempre vaza e o segredo tende a cair à medida que forem implantados outros parques eólicos, atualmente em fase de planejamento, de Tramandaí a Santana do Livramento, passando por Santa Vitória do Palmar.
A continuação dessa história está marcada para novembro, o mês do novo leilão de energia eólica programado pela Eletrobrás.
(Por Geraldo Hasse, Jornal JÁ, 14/09/2009)