A problemática da lama do Cassino foi tema de uma reunião realizada na Câmara de Vereadores. Entre os presentes, estavam o oceanógrafo e professor da Furg, Lauro Calliari, e o representante da Superintendência do Porto do Rio Grande (SUPRG), Celso Elias Corradi. O encontro foi proposto pelo vereador Renato Albuquerque (PMDB). “Queremos esclarecer à população se a lama é produto da dragagem ou um fenômeno natural. De acordo com o resultado, vamos buscar meios de minimizar o problema”, esclareceu.
Estudo da Oceanografia
Calliari, autor do estudo sobre a lama no Cassino que motivou a discussão entre os órgãos competentes, disse que o problema é acumulativo. Segundo ele, em relação ao estuário da Lagoa dos Patos, para acumular 50cm de lama é preciso um período de 10 anos. “Mas os depósitos têm sido muito frequentes. Nos últimos 30 anos foram mais de 35 eventos de deposição. Em São José do Norte também há lama, mas lá não tem registro de deposição na beira da praia”, salientou.
De acordo com o oceonógrafo, as considerações sobre o lançamento de sedimentos finos das dragagens na região subaquosa do estuário mostram que o volume de lama lançado é grande em um espaço de tempo muito curto. Conforme ele, poucas toneladas de lama podem impactar 3Km de praia.
Durante sua explicação, Calliari foi enfático. “Esse fenômeno parou de ser natural. É hipocrisia de nossa parte dizer que é normal. O homem tem ação nisso”, destacou. Segundo ele, embora a ação seja constante, o balneário reage bem. “O Cassino até que vem reagindo bem. Ele se recupera. O trabalho quem faz é a própria natureza”, ressaltou.
Calliari destacou ainda os overflows – material que sai da cisterna da draga - durante a dragagem. “Em 1998, ocorreram overflows acentuados. Temos que repensar o nosso processo de dragagem e lançamento no estuário”, reafirmou.
Superintendência do porto
Já o chefe da divisão de Meio Ambiente, Saúde e Segurança da SUPRG, Celso Elias Corradi, fez alguns questionamentos ao oceanógrafo. De acordo com ele, devido a ações como o desmatamento e à agricultura há um aumento no aporte de sedimentos naturais. “Nos últimos dois anos houve um aporte de sedimentos naturais gigantesco na região estuariana”, afirmou.
De acordo com ele, o porto realiza o controle de overflows - dispositivo de segurança para a navegabilidade da draga. “Nós realizamos a restrição do uso de overflow para que haja a preservação ambiental”, afirmou. Conforme ele, nos últimos dois anos, 90 mil metros cúbicos de sedimentos foram dragados. “Quando a draga tirou 16 mil metros cúbicos de sedimento, a natureza colocou na mesma região 400 mil metros cúbicos de volta”, disse.
Sobre a responsabilidade da dragagem em relação ao aparecimento de lama no Cassino, Corradi disse não pode concordar com o estudo. “Não podemos aceitar o parecer de que o lodo da praia é decorrente da dragagem. Que um percentual irrisório pertence à dragagem pode ser, mas não a sua totalidade”, ressaltou. O representante da SUPRG destacou ainda o trabalho contínuo realizado entre o porto e a universidade e o trabalho de um fiscal durante o processo de dragagem.
(Por Lorena Garibaldi, Jornal Agora, 17/09/2009)