(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
internacionalização amazônia plantas amazônicas guerra e meio ambiente
2009-09-18

Há florestas devastadas, cheias de enormes riquezas. Além da madeira, fundamental para a construção, e do carvão, no pulmão do planeta existem minerais estratégicos, petróleo e gás. Lula aponta para a preservação desse território com a recente aquisição de caças, submarinos e helicópteros.

Anda de capacete, luvas, botas e está metido em um macacão, fabricado com um tecido que protege contra feridas profundas. Não tem mais que um metro e sessenta centímetros e é fácil calcular um peso entre 58 e 60 quilos. Chamam-no de “Ceará”, porque vem desse Estado do Nordeste brasileiro. Profissão atual: técnico em corte de árvores grandes. Trabalho passado: atuou 27 anos a serviço de madeireiras ilegais especializadas em depredar a Amazônia.

Com serra elétrica na mão, encara um dos gigantes da selva: o angelim amargoso. Mede cerca de 25 metros de altura e seu diâmetro na base passa do metro. “Ceará” usa uma lança para penetrar até a medula da árvore e saber se o oco é pequeno ou grande. Disso depende o valor comercial do tronco. Em seguida, realiza três incisões precisas, como um cirurgião. E pede aos que o acompanham para que se afastem rapidamente. Segundos depois, o ciclope amazônico cai e esmaga tudo o que está ao seu redor. Das feridas do angelim derrubado sai uma espécie de leite amargo.

Não há outro remédio senão passar o dedo e provar. Toda a operação dura exatos cinco minutos. E é uma das milhares de operações que são realizadas diariamente na maior floresta tropical do mundo, o grande tesouro que o governo brasileiro busca proteger com o novo arsenal militar que está negociando comprar, fundamentalmente da França.

O presidente Lula fixou sua nova tese militar em dois objetivos: defender a Amazônia e os recursos petrolíferos da plataforma continental. A mata foi, historicamente, um tema nevrálgico para os militares brasileiros. Remonta à Segunda Guerra Mundial, quando foi fundamental contar com o caucho que se extraía dos “seringais”, as plantações da árvore produtora do látex natural.

Mas, há outras riquezas incalculáveis na Amazônia. Basta pensar nas jazidas de urânio, um combustível estratégico para a matriz energética. Ou mais ainda, no petróleo e no gás. A Petrobras tem reservas em produção em Urucu, no meio do coração da floresta. O Clarín esteve ali em duas oportunidades. Por enquanto, a exploração e a produção desses reservatórios é feita em escala limitada.

Na Amazônia há muito mais: diamantes, ouro e minerais estratégicos de uso militar. Por isso, Lula se apressa em posicionar uma esquadra de sua Marinha na desembocadura do Rio Amazonas, na altura de Belém (capital do Pará). Também por isso se apressa em construir o submarino de propulsão nuclear. Junto com as riquezas minerais, há 1.400 árvores que podem ser aproveitadas economicamente por cada 100 hectares de floresta. Os técnicos dizem que, para preservar a selva, pode-se extrair no máximo 640 exemplares porque algumas espécies se reproduzem em tempos relativamente curtos: 35 anos. Mas outras demoram entre 60 e 200 anos para ficarem adultas.

“Ceará” estudou durante 16 anos como abater semelhante árvore sem que o tronco rache. Conta que por dia um cortador é capaz de tirar 70 exemplares de grande altura da floresta. Recebe um real por unidade, mas o valor final dependerá do tempo da operação. Se o tronco está danificado, pode custar menos de 25 centavos de dólar. “Eu tinha que buscar um bom salário. E por isso estudei qual era a melhor forma de produzir com a menor quantidade de danos. E assim foi que aperfeiçoei o meu trabalho”. Ceará publicará um livro no final do ano em que detalha o método de corte, que será financiado pelo Instituto Floresta Tropical, uma organização não governamental.

A ONG é dirigida pelo holandês nacionalizado Johan Zweede, engenheiro florestal com mais de 30 anos no Amazonas. Este engenheiro conta hoje com um apoio fundamental: do Serviço Florestal do Brasil, criado em 2006. A aposta é transformar a extração de madeira amazônica em uma atividade “sustentável”. Para ele e seus colaboradores, isto significa programar “cientificamente” a exploração das reservas florestais públicas de modo a preservar a sua existência.

Luiz Joels, diretor do Instituto Florestal, é adepto da tese da ONG coordenada por Zweede: “Na Amazônia vivem 20 milhões de pessoas e elas têm os mesmos direitos que os habitantes do resto do Brasil: querem luz, água potável, geladeira e TV”, sintetizou. Foi pouco depois que esta enviada observara, com profunda comoção, a abertura de caminhos na mata virgem com tratores esteiras Caterpillar. Joels assinalou: “Basta ver o mapa satelital amazônico para observar os danos produzidos na floresta. Dos 4,91 milhões de quilômetros quadrados da Amazônia já se perdeu 14%”. São 700.000 quilômetros quadrados, um quarto da área continental da Argentina, que foram devastados.

Dos 25 milhões de metros cúbicos de madeira amazônica que anualmente saem dessa “catedral verde”, boa parte é usada na fabricação de móveis e na construção. Mas também há espécies que são transformadas em carvão vegetal, útil para alimentar os grandes fornos siderúrgicos.

O Clarín conversou, no acampamento do Instituto Floresta Tropical, com um dos homens da floresta que mais conhece as propriedades medicinais das espécies. Em uma área de 1,2 milhão de quilômetros quadrados de reservas florestais públicas, a conservação da Amazônia está nas mãos das comunidades que vivem da exploração medicinal e de frutos regionais. Árvore por árvore, Benedito de Souza explicou as propriedades.

A apenas cerca de 600 metros do acampamento, floresta adentro, o homem tem seu reinado: há remédios para a gastrite, para baixar a febre e para curar as mais diversas enfermidades. Benedito contou: “Há ao menos 40 tipos: há, por exemplo, o jatobá que pode ser usado para combater a diarréia, a tosse, a bronquite e até os fungos dos pés”. Essa espécie foi estudada por botânicos norte-americanos no final dos anos 1980. E no começo da década de 1990, passou a ser consumida no mercado norte-americano com idênticos fins medicinais.

Este é apenas um indício do grande potencial deste território que o governo brasileiro busca defender.

(Por Eleonora Gosman, Clarín / Cepat / IHUnisinos, 17/09/2009)


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -