O tema fusões e aquisições de frigoríficos, que normalmente já é motivo de muita conversa, teve destaque ainda maior nesta quarta (16/09) em Goiânia, onde 1.320 pecuaristas se reuniam em evento da Assocon (Associação Nacional dos Confinadores). O encontro, que discutiu problemas e perspectivas da pecuária e do setor de carne, já tinha sido iniciado com o anúncio de mais uma concentração no mercado: a compra da Seara pelo Marfrig, na segunda-feira.
Pecuaristas, dirigentes de associações e até governo têm a mesma avaliação. "É uma concentração muito perigosa." "Essa nova concentração afetará muito os pecuaristas", diz Ricardo Merola, presidente da Assocon. Para ele, a união das empresas, que passam a abater 19% do gado brasileiro, poderia ter tido uma saída melhor. Para haver uma concorrência mais sadia no setor, o Bertin deveria ter sido adquirido por outro grupo, mesmo que estrangeiro.
Sérgio de Zen, do Cepea, diz que a concentração começou há alguns anos, quando a colocação de dinheiro nos frigoríficos "beirou a irresponsabilidade". Houve crescimento forte dos investimentos, mas nesse período a preocupação foi mais com os riscos financeiros do que com os dos frigoríficos.
O problema maior, diz Merola, é que as duas empresas se concentram no Centro-Oeste e no Sudeste. Ou seja, apenas um frigorífico passa a ter peso muito grande na compra de gado. Os dados do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária) confirmam a apreensão de Merola. Mato Grosso tem 39 frigoríficos com inspeção, mas apenas 29 estão em funcionamento. Desses, 11 são operados por JBS e Bertin.
Essa situação é a pior possível, diz Mário Candia de Figueiredo, presidente da Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso). "É mais um duro golpe para o setor, que está com queda nas exportações e no consumo", diz ele. Juan Lebron, diretor executivo da Assocon, diz que essa concentração traz preocupação, mas pode também dar mais liquidez ao setor. Antenor Nogueira, presidente do Fórum Permanente da Pecuária de Corte, diz que o momento já é ruim e, quanto mais concentrado o mercado, mais o produtor perde poder na formação de preços.
(Por Mauro Zafalon*, Folha de S. Paulo, 17/09/2009)
* O jornalista viajou a Goiânia a convite da Assocon