Empresa incorpora Bertin, adquire indústria nos EUA e supera Tyson no comércio de carnes bovina, suína e de frango. Para um dos diretores da JBS, indústria e pecuaristas precisam "ganhar juntos"; órgãos reguladores do país têm de aprovar negócio
O grupo JBS-Friboi anunciou nesta quarta (16/09) a incorporação da Bertin S.A. e a compra da Pilgrim's Pride, uma das líderes no mercado de aves nos EUA. Com as aquisições, a JBS S.A., que já era a primeira no ranking do comércio mundial de carne bovina, passou à liderança global em proteína animal -incluindo frangos e suínos. Superou a americana Tyson Foods. A nova JBS S.A. será controlada por uma holding, em que cerca de 60% das ações serão das famílias Batista e Bertin.
Desse bloco de controle, 60% dos papéis ficarão com os Batista e 40%, com os Bertin. Cálculos da Reuters indicam que a troca de ações remete a um negócio de cerca de R$ 5,2 bilhões. A ação da JBS fechou ontem com valorização de 8,8% -a maior alta na Bovespa. Em receita, a companhia se torna a terceira maior empresa de capital aberto do país, superada por Petrobras e Vale. A agência de classificação de riscos Standard & Poor's atribuiu nota B+ com "crediwatch" positivo. Antes, era B+/negativo.
Os demais 40% da nova JBS S.A. pertencerão ao mercado, incluindo a participação do BNDES. O banco estatal vai ficar com 22,4% da nova empresa. A instituição tem sido essencial na estratégia do governo de apoiar a formação de grandes grupos nacionais para atuação também no exterior. As negociações entre JBS e Bertin se intensificaram nos últimos 40 dias, depois que não prosperou a tentativa de acordo com a Marfrig Alimentos, disse Fernando Bertin, presidente da Bertin S.A. "É um amor antigo", disse. As empresas haviam sido sócias antes numa empresa de exportação de carne industrializada.
O setor de carnes no país está em consolidação. Na segunda-feira, o grupo Marfrig anunciou a compra da Seara por R$ 1,6 bilhão. Em maio, Perdigão e Sadia se uniram na Brasil Foods. A Folha procurou o Marfrig e a BRF para comentar o anúncio da JBS, mas não teve resposta. O faturamento anual da nova JBS-Bertin é estimado em quase US$ 30 bilhões. A empresa, em todo o mundo, conta com capacidade de processamento diário de 90,4 mil bovinos, 48,5 mil suínos, 7,2 milhões de aves, 19,5 animais de pequeno porte (ovinos e caprinos), 148,5 mil metros quadrados de couro e 1.266 toneladas de lácteos.
No Brasil, a capacidade diária de abate da JBS chega a 43,4 mil bois. O Marfrig, segundo no ranking nacional, mata, no mundo inteiro, no máximo 21,3 mil bovinos. A Associação dos Criadores de Mato Grosso estima que, no Estado, a JBS vá controlar quase 50% dos abates. Os órgãos reguladores terão de autorizar o negócio.
Ajustes a caminho
A empresa espera que não haja problemas na aprovação. Em evento em Goiânia, José Batista Júnior, um dos diretores da JBS, disse que estrangular o mercado "não é o jogo". Para ele, indústria e pecuaristas precisam trabalhar juntos e melhorar a qualidade, mesmo que o consumidor pague um pouco mais. Júnior afirmou que não há ideia de demitir, mas que "vai haver ajustes".
A JBS adquiriu a concordatária Pilgrim's Pride, uma das líderes do setor de aves nos EUA, avaliada em US$ 2,8 bilhões (pouco mais de R$ 5 bilhões). A aquisição da Pilgrim's Pride vai atrasar a oferta pública de ações da JBS USA. "Vamos ter de reapresentar os documentos à SEC [entidade nos EUA equivalente à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) no Brasil]", disse Joesley Batista, presidente-executivo da JBS. Ele espera US$ 2 bilhões com o IPO. Faz parte do negócio um refinanciamento de US$ 1,85 bilhão da Pilgrim's, feito pela concordatária.
Os ganhos propiciados pela união das operações devem chegar a R$ 860 milhões (R$ 500 milhões com o Bertin e R$ 360 milhões com a Pilgrim's), estima a JBS. "Estamos com o dever de casa cumprido para 2009", disse Batista. Indagado pela Folha sobre outras oportunidades ainda neste ano no Brasil, pois há grupos frigoríficos em recuperação judicial -situação semelhante à da Pilgrim's-, respondeu: "Estamos olhando".
(Por Gitânio Fortes e Mauro Zafalon, com colaboração de Fabricio Vieira, Folha de S. Paulo, 17/09/2009)