Formada pela incorporação da Aracruz à VCP, Fibria tem dívida de R$ 1,3 bi
Foi com surpresa que o mercado absorveu, nesta quarta-feira (16/09) , a confirmação da Aracruz de que “recebeu manifestações de interesse pela aquisição” da Unidade Guaíba, como o conjunto é chamado na empresa. Instalações industriais, terra e florestas teriam recebido oferta de US$ 1,5 bilhão – valor equivalente ao que falta investir para completar a duplicação da planta.
Embora tenha anunciado no início do mês a incorporação da Aracruz à Votorantim Celulose e Papel (VCP) para a formação da Fibria, a companhia resultante tem dívida elevada – R$ 13,4 bilhões, mais de sete vezes a geração de caixa. Por isso, analistas consideram positiva a venda da Unidade Guaíba.
– É inesperado, mas até faz sentido querer vender se a justificativa é reduzir o endividamento. A VCP teve de assumir uma dívida grande para comprar a Aracruz, que já estava com grande passivo mesmo tendo negociado boa parte dos débitos com derivativos – avalia Bruno Rezende, analista de papel e celulose da Tendências Consultoria Integrada.
Unidade já teve sete diferentes controladores
No mercado, há rumores de que os prováveis compradores seriam asiáticos e chilenos, mais especificamente a Royal Golden Eagle (RGE), da Indonésia, e a Arauco, do Chile.
Para Wagner Salaverry, diretor do banco Geração Futuro, os chilenos são fortes concorrentes por terem bom domínio tecnológico, mas pouca área para crescer em seu próprio país. Além disso, conhecem melhor as condições de concorrência na América Latina. A RGE, por sua vez, tem uma unidade em Camaçari (BA), a Bahia Pulp, que fabrica celulose solúvel, com várias aplicações, inclusive em telas de LCD.
Em 37 anos de operações, a Unidade Guaíba já teve sete diferentes controladores. Salaverry explica essa troca de mãos pelo fato de que o Estado nunca foi um polo de celulose no Brasil. Como havia apenas um ativo deslocado, as instalações se tornaram uma moeda interessante tanto para fazer caixa quanto para expansões. No entender do analista, a transação não ameaça a concretização dos investimentos em celulose no Estado:
– Se o comprador tiver dinheiro suficiente, pode acelerar a conclusão do investimento para a duplicação, que estimamos em US$ 1,5 bilhão. As coisas poderiam ser mais lentas com a Fibria.
Conforme Rezende, fusões e aquisições no setor estão ocorrendo no mundo inteiro.
– O setor passa por um período de consolidação no mundo, isso não é exclusividade de empresas brasileiras.
Procurados por Zero Hora, os dois grandes grupos de celulose do Chile retornaram a consulta com evasivas.
Interessados
ARAUCO
Os grandes grupos chilenos de papel e celulose:
Atua em plantações, celulose, madeira e painéis. Tem capacidade instalada para 3 milhões de toneladas de celulose/ano e exporta para 65 países. Recentemente, dividiu com a Stora Enso a compra da uruguaia Ence. No Brasil, adquiriu em 2005 a Placas do Paraná, que no mês passado absorveu a Tafisa, produtora de tábuas do grupo português Sonae. Em 2008, teve vendas de US$ 3,7 bilhões. O nível de endividamento é elevado, correspondente a 4,8 vezes a geração de caixa.
CMPC
Atua em plantações, celulose, papel toalha e produtos de papel. Tem capacidade instalada de 2 milhões de toneladas de celulose. No ano passado, vendeu US$ 3,5 bilhões. O endividamento é relativamente moderado, entre duas e três vezes a geração de caixa. Em abril comprou a divisão de papel tissue (usado em lenços) da Melhoramentos Papéis no Brasil.
A FÁBRICA DE GUAÍBA
Capacidade: 1,3 milhão de toneladas de celulose ao ano A duplicação
Já investido: US$ 650 bilhões
O que falta: US$ 1,5 bilhão
(Zero Hora, 17/09/2009)