Pesquisadores da Universidade de Taubaté, em São Paulo, investigaram o papel de poluentes ambientais como fatores de risco para o baixo peso de bebês ao nascer em uma cidade de porte médio do Sudeste (São José dos Campos, no mesmo estado) e identificaram que o dióxido de enxofre e, principalmente, o ozônio são os principais agentes responsáveis por esse efeito na localidade. O estudo, publicado na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, apontou que 99 recém-nascidos (3,95% do total da amostra analisada) apresentaram redução no peso devido aos poluentes em questão.
“O presente estudo preenche uma lacuna na pesquisa sobre os efeitos de poluentes do ar no peso ao nascer em cidades de porte médio no Brasil”, afirmam os estudiosos no artigo. “A maior parte dos estudos nessa área no país foram realizados em cidades grandes”. Para a pesquisa, foram selecionadas crianças com mães entre 20 e 34 anos, segundo grau completo, com sete ou mais consultas de pré-natal realizadas, gravidez única e parto normal.
Foi considerado baixo peso ao nascer aquele inferior a 2,5 quilos. Além disso, os pesquisadores assumiram que as concentrações de poluentes eram homogêneas por toda a cidade e que todas as mães foram igualmente expostas a eles durante o período analisado. “Visto que eram gestações normais, as mães estavam livres para circular ao redor da cidade e, posto que as concentrações eram consideradas homogêneas, a exposição foi considerada constante”, comentam os estudiosos.
Segundo os pesquisadores, o achado mais importante desse estudo, com resultado diferente do de outras pesquisas conduzidas no Brasil, foi o papel do ozônio no baixo peso dos recém-nascidos. “O efeito do ozônio pode envolver mecanismos inflamatórios. A gravidez é acompanhada por um aumento da ventilação alveolar”, explicam os estudiosos. “A hiperventilação resulta no aumento da absorção de ozônio, com uma resposta inflamatória e a liberação de produtos de peroxidação lipídica e citocinas. Esses agentes podem afetar a circulação na placenta e colocar em risco o crescimento fetal”.
Os pesquisadores esclarecem que duas das principais fontes de liberação do dióxido de enxofre na atmosfera são as indústrias que usam carvão e produtos derivados do petróleo e os veículos que utilizam combustíveis fósseis. Com relação ao ozônio, a presença dessa substância próxima à superfície do planeta se deve a reações fotoquímicas entre outros poluentes, como oxidações que envolvem nitrogênio, na presença de radiação solar.
Abstract
NASCIMENTO, Luiz Fernando C. and MOREIRA, Douglas A.. Os poluentes ambientais são fatores de risco para o baixo peso ao nascer?. Cad. Saúde Pública [online]. 2009, vol.25, n.8, pp. 1791-1796. ISSN 0102-311X. doi: 10.1590/S0102-311X2009000800015.
O objetivo foi estimar o papel de poluentes no baixo peso ao nascer numa cidade de porte médio. Foi um estudo ecológico com dados obtidos da Declaração de Nascido Vivo relativos a São José dos Campos, São Paulo, Brasil. Os dados ambientais foram fornecidos pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB). Foram incluídos no estudo recém-nascidos a termo, com mães entre 20 e 34 anos de idade, segundo grau completo, sete ou mais consultas realizadas no pré-natal, gravidez única e parto normal, para minimizar o efeito de confusão destas variáveis.
Utilizou-se regressão logística para estimar o efeito de cada poluente. Baixo peso ao nascer foi considerado aquele inferior a 2.500g. Foram incluídos 2.529 dados de 2001 que atenderam aos critérios de inclusão (25,6% do total). Identificamos 99 recém-nascidos (3,95% dessa amostra) com baixo peso e os poluentes dióxido de enxofre e ozônio como associados ao baixo peso ao nascer. O modelo final foi À(x) = -1,79 + 1,30 (SO2) + 1,26 (O3). Assim, identificou-se o dióxido de enxofre e ozônio como responsáveis pelo baixo peso ao nascer numa cidade de porte médio do Sudeste brasileiro.
(Por Renata Moehlecke, Agência Fiocruz de Notícias / EcoDebate, 17/09/2009)