Ela sobreviveu, mas a pobre suçuarana (Felis concolor) atropelada nesta segunda (14/09) na rodovia Anhanguera (SP) é nova amostra do genocídio da fauna nativa perpetrado nas estradas brasileiras. Esquecendo sua característica de país megadiverso, que nas rodas internacionais se traduz como muito rico em animais, plantas e afins, o Brasil segue implementando sua infraestrutura sem os mínimos cuidados com a bicharada.
Só de rodovias federais, já são quase 70 mil quilômetros, sem contar vias estaduais, municipais, desmatamento irrefreado e outras armadilhas à circulação da fauna. Veja mapa aqui (PDF/35Mb).
Conforme estimativas do pesquisador Roberto Malheiros, da Universidade Católica de Goiás, seu estado perde todo ano nas estradas 54 mil animais silvestres, o Cerrado 231 mil e o Brasil 1,36 milhão. "Em alguns locais os atropelamentos vêm caindo, não por conscientização dos motoristas ou melhorias na infraestrutura, mas sim pelo extermínio da fauna", disse a O Eco. E o tamanho verdadeiro do massacre sequer é conhecido no Brasil, sempre carente de estudos e estatísticas quando o assunto é meio ambiente.
Conforme estudo recente da rede argentina de especialistas Yaguareté (confira aqui), as estradas causam principalmente atropelamentos, isolamento de populações e mudanças nos padrões reprodutivos da fauna. O documento faz um balanço do problema na província de Misiones, que abriga a porção argentina do Parque Nacional do Iguaçu. E não esquece da onça atropelada em abril na "área protegida" brasileira, lembrando que esses grandes felinos perambulam pela fronteira, sofrendo com o trânsito tanto lá como cá.
As soluções para essa silenciosa tragédia nacional passam pelo licenciamento ambiental adequado de novos empreendimentos, alterações nas vias já construídas e, acima de tudo, redução da velocidade dentro e fora de unidades de conservação.
(O Eco, 15/09/2009)