Uma em cada seis espécies de mamíferos está em risco de desaparecer da região mediterrânica, revela um relatório da União Mundial para a Conservação (UICN) divulgado esta segunda-feira (14/09). O lince-ibérico e a foca-monge fazem parte desta lista vermelha com 320 animais, elaborada por mais de 250 especialistas de 30 países. Lince-ibérico (Lynx pardinus), foca monge (Monachus monachus) e visão-europeu (Mustela lutreola) figuram entre as nove espécies com estatuto de Criticamente Ameaçadas.
O relatório, referente à bacia do Mediterrâneo – desde Portugal até ao Levante, cobrindo os continentes europeu, asiático e africano -, diz ainda que as populações de mais de um quarto (27 por cento) dos mamíferos estão em declínio. Trinta e um por cento encontram-se estáveis e 40 por cento não se sabe ao certo. Apenas três por cento registam uma tendência de aumento.
Annabelle Cuttelod, uma das coordenadoras do estudo e responsável da Lista Vermelha da UICN para o Mediterrâneo, comentou ao PÚBLICO que estes são “números bastante elevados”. “O Mediterrâneo e, especialmente, a Península Ibérica são regiões com uma grande diversidade de espécies de mamíferos. Mas também têm um grande número de espécies em risco”.
A maior ameaça aos animais do Mediterrâneo, região onde vivem cerca de 400 milhões de pessoas, é a destruição e degradação dos habitats, causadas pela intensificação da agricultura, urbanização, poluição e alterações climáticas. A perturbação humana, a sobre-exploração e as espécies invasoras são outras grandes ameaças. “A crise da Extinção da Biodiversidade é, pelo menos, tão importante quanto a crise das Alterações Climáticas e é preciso agir urgentemente”, considerou Cuttelod.
A Lista Vermelha dos Mamíferos do Mediterrâneo faz parte de uma iniciativa mais vasta (o Mediterranean Biodiversity Assessment) que, explicou Cuttelod, pretende “actualizar o estado de conservação de várias espécies do Mediterrâneo: mamíferos, mas também répteis, anfíbios, peixes de água doce e marinhos, moluscos, insectos e grupos de plantas vasculares”. Foi a primeira a aplicar à escala regional os critérios de classificação utilizados pela UICN a nível mundial.
“Queremos chamar a atenção do público e dos decisores políticos para as espécies que mais precisam de medidas de conservação e para as maiores ameaças à biodiversidade do Mediterrâneo”, acrescentou.
No entender destes peritos, é preciso melhorar as leis de conservação da natureza, especialmente no Norte de África, encorajar práticas agrícolas mais sustentáveis, melhorar a gestão das áreas protegidas, desenvolver planos de gestão para a maioria das espécies ameaçadas, recuperar habitat e sensibilizar as pessoas. A UICN prevê ainda enquanto medida a conservação por entidades privadas. “Estes passos são absolutamente fundamentais para salvar as espécies da extinção”, declarou a especialista.
O Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB) sublinhou que esta Lista Vermelha “faz todo o sentido”. “Esta lista traz uma visão à escala regional que é muito importante para a conservação dos grandes mamíferos”, comentou Sandra Moutinho, assessora do instituto, lembrando que as autoridades portuguesas participam em vários grupos de trabalho europeus de conservação.
(Por Helena Geraldes / Ecosfera / 16/09/2009)