Tratar a água utilizada em residências sem produtos químicos, por meio de um reservatório com cultivo de plantas, é possível com uma técnica pesquisada na Escola Politécnica (Poli) da USP. O sistema, conhecido como “wetlands”, não utiliza energia elétrica e disponibiliza a água para reúso não potável, principalmente em irrigação. O método testado pelo ecólogo Rodrigo Cesar de Moraes Monteiro ainda é pouco conhecido no Brasil.
O efluente tratado pelo sistema, conhecido como “água cinza”, é originário de chuveiros, lavatórios e da lavagem de roupas. Á agua é conduzida por uma tubulação para um reservatório com material inerte. “Na pesquisa, utilizou-se brita e areia, mas também pode se usar garrafas pet amassadas ou cacos de telha, entre outros elementos”, conta Rodrigo. “O material vai servir de sustentação para os microrganismos e plantas que vão interagir com a água e realizar o tratamento”.
No reservatório, são cultivadas plantas do tipo macrófitas, conhecidas como “plantas de brejo”. “São espécies adaptadas à saturação de água nas raízes, pois conduzem oxigênio numa taxa maior para que elas não se deteriorem”, afirma o ecólogo. “Para aumentar a resistência e resilinência do sistema, são utilizados vários tipos de plantas, como o papiro, a sombrinha-chinesa, a taboa, o copo-de-leite, a cavalinha, a lágrima-de-maria, a pontedéria e o mini-papiro”.
Em contato com o material de enchimento e as raízes das plantas, os microorganismos existentes no efluente se desenvolvem. “A diversidade de bactérias associadas é grande, já que no reservatório existem ambientes anaeróbios, na brita e na areia, e aeróbios, junto às raízes”, diz o pesquisador. “Desse modo, é possível tratar a água e torná-la disponível para reúso não potável”.
Tratamento
A pesquisa mostra que o sistema é apto para o controle da eutrofização da água, atuando na remoção de nutrientes, especialmente fósforo, e de matéria orgânica. Os indicadores de contaminação fecal foram reduzidos em 90%. Todo o tratamento é realizado sem uso de energia elétrica ou de produtos químicos. “Se a captação do efluente acontecer em um local mais elevado que a unidade de tratamento, também não haverá necessidade de bombeamento”, acrescenta Rodrigo.
A água tratada pode ser empregada em irrigação, ou também para descarga em vasos sanitários. O sistema é indicado para qualquer local com área disponível, especialmente pequenas cidades e comunidades, além de condomínios e propriedades rurais. “Numa comunidade carente, por exemplo, além de tratar a água, seria possível comercializar plantas e flores cultivadas no tanque, e também usar as fibras vegetais para artesanato”, aponta o pesquisador.
A pesquisa é descrita na dissertação de mestrado em Engenharia Sanitária de Rodrigo, orientada pelo professor Ivanildo Hespanhol, da Poli. As experiências com o sistema foram realizadas no Centro Internacional de Referência em Reúso de Água (Cirra), ligado à Poli e à Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica (CTH).
De acordo com o ecólogo, os sistemas tipo “wetlands” são muito usados para o tratamento de efluentes na Europa e nos Estados Unidos. “No Brasil, porém, o método é pouco conhecido”, ressalta. “Entretanto, o potencial de uso no País é grande, devido a disponibilidade de espaços e ao clima adequado para a atividade dos microrganismos envolvidos no tratamento”.
Mais informações: (11) 9740-9586
(Por Júlio Bernardes, Agência USP de Notícias / EcoDebate, 15/09/2009)