Queda na procura por atendimento médico e redução dos casos fazem com que os gaúchos relaxem nos cuidados com a prevenção ao contágio do vírus H1N1 e levam especialistas a emitir um novo aviso sobre os perigos da volta da doença que fez milhares de vítimas pelo mundo
Sumiço das máscaras cirúrgicas de ruas e locais públicos. Frascos de álcool gel empilhados, formando montanhas nas prateleiras das farmácias. Hospitais de campanha armados com barracas quase às moscas, esperando pelas filas que se formavam semanas atrás. O quadro, que remete a uma falsa sensação de vitória sobre a gripe A, reflete um relaxamento da população com cuidados básicos contra a doença. Para os especialistas, é o momento de lançar o alerta: a desmobilização na prevenção à gripe A deve ser contida.
A recomendação vem do professor da UFRGS Luciano Goldani, chefe da infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). No HCPA, o número de pessoas que buscam ajuda médica em razão da gripe diminuiu, notícia que aparentemente não daria margem a interpretações negativas. Mas elas existem: a pouca procura pode ser mais um indício de relaxamento, na medida em que antes bastava um espirro para se correr aos hospitais.
Entre o final de julho e o início de agosto, a média diária no Clínicas era de 350 pacientes que procuravam ajuda por infecção respiratória (nem sempre se tratava de gripe A). O índice baixou para entre 30 e 40 pessoas ao dia procurando o hospital. Ontem à tarde, Zero Hora não viu pessoas circulando com o rosto coberto por máscaras cirúrgicas no HCPA, diferentemente do que ocorria três semanas atrás. As barracas para atendimento específico a pacientes gripados estavam vazias, e as filas ficaram no passado.
– As pessoas veem que há menos casos e se preocupam menos, começam a relaxar. É importante que se diga: isso é perigoso, o vírus é surpreendente. Pode haver repique, apesar de acreditarmos que a segunda onda virá só no próximo inverno. Peço que as pessoas continuem lavando as mãos e tomando todos os cuidados, que não baixem a guarda – diz Goldani.
O secretário estadual da Saúde, Osmar Terra, reforça o apelo do infectologista. Diz que reduziram as internações graves por gripe (de 272 na primeira semana de agosto para 59 na última semana) e aposta em uma redução ainda maior. Mas pondera:
– A gripe pode diminuir, mas a cultura e os cuidados com a gripe, em geral, têm de ficar.
De acordo com Terra, os 31 postos de saúde do governo que têm ficado abertos até as 22h em Porto Alegre (em uma situação normal, fechavam às 18h) estão praticamente vazios.
Na farmácia Capilé da Avenida Venâncio Aires, em Porto Alegre, o auge das infecções pela gripe A fazia com que as encomendas de 40 frascos de álcool gel sumissem das gôndolas em questão de horas. Ontem, havia 36 frascos na prateleira. E o gerente informa: estão lá há duas semanas.
Emocionalmente, o relaxamento pode ser causado pelo medo. Mais especificamente, pela “negação” ao sentimento de medo, diz o presidente da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, Fernando Lejderman:
– Diminui a incidência de pessoas com gripe. Esse é um fato. E é fato, também, que a gente relaxa quando isso ocorre. O frio e as notícias sobre a gripe A provocaram a adrenalina, que produz o susto. Na medida em que esquenta, as pessoas relaxam e passam à negação. O medo é angustiante.
A doença no mundo
No Hemisfério Sul, a tendência é de desaceleração da gripe A, enquanto o Hemisfério Norte, à medida que chega o inverno, apresenta um quadro de evolução:
País Habitantes Mortos
Brasil 191.481.045 657
Estados Unidos 314.658.780 605
Argentina 40.276.276 514
México 109.610.036 207
Uruguai 3.360.854 32
(Por Leo Gerchman / Zero Hora / 16/09/2009)