O coordenador da Defesa Civil, Mauro Guedes, ressaltou que somente barcos têm acesso às moradias atingidas pela cheia do rio dos Sinos. Na manhã de ontem, o município encaminhou 70 cestas básicas aos flagelados. 'Não tenho como abandonar minha casa por medo dos saqueadores', relatou a pescadora Maria Penafor, 47, que reside há 30 anos no local. Ela deixou a área alagada para tentar vender os peixes estocados no freezer. Devido à falta de energia, Maria decidiu fazer uma espécie de liquidação para não perder os pescados.
Residente em uma palafita com 40 centímetros acima do nível do solo, o pensionista Doralino Pires, 79, abandonou a casa por volta das 8h. 'Quando acordei, a cozinha já estava alagada e faltava muito pouco para a água avançar nas demais peças', recordou. As famílias que optaram por permanecer temporariamente em abrigos municipais contam com o apoio de vizinhos ainda não atingidos pela enchente para abrigar os animais. No trecho seco da rua do Paquetá, os pátios de praticamente todas as moradias abrigam cavalos, cachorros e aves. O proprietário de um estacionamento está cuidando da criação de bodes, cabras e gansos de um amigo residente no balneário.
O carroceiro João Maria Andrade, 55, relatou que sua casa foi construída sobre uma plataforma suspensa com 1,5 metro de altura. 'Moro mais distante, muito perto do rio. Naquele ponto, a situação é mais grave. Tenho meio metro de água na sala', lamentou. Por volta das 10h, ele tentou retornar à moradia na tentativa de resgatar alguns pertences. O cavalo que puxava a carroça, porém, desistiu de caminhar quando a água barrenta atingiu sua barriga. A Defesa Civil removeu quatro famílias da Prainha e outras dez famílias que vivem atrás de um dique, também no Mato Grande.
(Correio do Povo, 16/09/2009)