Durante a noite desta segunda (14/09), pessoas não identificadas, provavelmente a mando de fazendeiros do estado brasileiro do Mato Grosso do Sul, incendiaram 35 casas da aldeia Laranjeira Ñanderu, pertencentes aos índios Guarani Kaiowá. Na ocasião, os indígenas não estavam no local, pois desde o dia 11 de setembro uma ordem judicial os obrigou a sair da terra.
A aldeia Laranjeira Ñanderu fica próxima ao município de Rio Brilhante. Há quase dois anos os índios moravam no lugar e aguardavam a demarcação da terra, já que segundo eles, o território é tradicional dos Guaranis. A espera e a luta já duram anos, sem sucesso. No último dia 11, um mandado de reintegração de posse determinado pela Justiça expulsou os índios do pequeno pedaço de terra em que estavam vivendo.
Sem ter para onde ir, os mais de 130 indígenas, incluindo crianças e idosos, montaram acampamento à beira da BR-163. Deste local foi possível ver o fogo que destruiu as casas, os pertences e matou pequenos animais. Durante a noite, os causadores do incêndio continuaram a intimidar ainda mais os índios, vigiando a área queimada com carros e acendendo os faróis contra os barracos na beira da estrada.
Segundo Egon Heck, coordenador do Cimi do Mato Grosso, o processo de demarcação das terras dos Guarani Kaiowá está empacado porque a Fundação Nacional do Índio - Funai não conseguiu dar continuidade ao processo de identificação. "Em 2007, a Funai firmou o compromisso de fazer um estudo para identificar se as terras eram realmente dos Guarani. Só dessa maneira seria possível dar continuidade ao processo de demarcação. No entanto, por pressões de políticos e fazendeiros não foi possível finalizar o trabalho e ações judiciais paralisaram o estudo, explica.
Egon explicou ainda que todos os anos de luta dos índios foram marcados por discriminação e racismo. "O governador do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, falou claramente que quer ver os índios bem longe, pois o Estado não é terra de índio e que é um absurdo dar um palmo sequer de terra produtiva para eles", fala. Esta forte retaliação originou, inclusive, campanhas comunicativas com o intuito de colocar a população do Estado contra os índios e mostrar que as áreas indígenas não devem ser reconhecidas.
Neste momento, os Guarani Kaiowá continuam acampados na beira da estrada, em frente à fazenda Santo Antônio de Nova Esperança, onde está a terra tradicional do povo. O local não oferece condições mínimas de sobrevivência como água, lenha e comida. Além disso, há riscos de atropelamento por contas dos carros que passam em alta velocidade a poucos metros dos barracos.
"As cenas da mudança dos índios para a beira da estrada foram duras. Será que uma sociedade que faz isso é mesmo civilizada? A verdade é que enquanto não houver justiça na demarcação das terras não poderemos falar em direitos humanos ou dignidade", lamenta Egon.
(Por Natasha Pitts, Adital, 15/09/2009)