Paulo César Quartiero, líder de arrozeiros da Raposa, levou cinco pontos na cabeça. O presidente não viu os confrontos; comandante do policiamento disse que teve de usar força porque o "grupo começou a hostilizar"
Duas manifestações contra o governo marcaram a primeira ida do presidente Lula a Roraima desde que se elegeu, em 2003, e deixaram quatro feridos, entre eles o ex-prefeito de Pacaraima Paulo César Quartiero (DEM), líder dos arrozeiros que tinham fazendas na área da Raposa/Serra do Sol. O confronto mais violento ocorreu no início da tarde, na entrada do Parque Anauá, onde Lula encerrou à noite a visita ao Estado. Segundo a Polícia Militar, 150 manifestantes liderados por Quartiero bloquearam o acesso quando foram impedidos de entrar para assistir ao evento com Lula, que não havia chegado e não viu a confusão.
Mas, ao chegar, o presidente fez menção às manifestações e criticou os adversários por "mentirem para a população", colocando os moradores de Roraima contra seu governo. "O grupo começou a hostilizar, a jogar urina, ovos e cadeiras nos policiais. Então, tivemos que reagir usando a força", disse o tenente-coronel Waney Vieira Filho, comandante do policiamento de Boa Vista.
Segundo o policial, a Presidência determinou que os manifestantes não entrassem. "Tentamos negociar porque o evento foi anunciado como público, mas os manifestantes partiram para o confronto." A polícia reagiu com golpes de cassetete e com a cavalaria. Quatro pessoas (três homens e uma mulher, entre eles Quartiero) tiveram ferimentos leves e foram levadas ao Hospital Geral -após deixarem o hospital, eles seriam presos por desacato e agressão. Todos ficaram em observação na noite desta segunda (14/09).
Quartiero, que recebeu cinco pontos na cabeça, disse que o grupo protestava porque o evento era público. "Saí de casa [ontem] com a notícia de que tinham comprado todos os ovos e tomates para jogar em mim. Nenhum trabalhador que vive de salário iria comprar ovo para jogar em alguém porque preferiria comer o ovo", disse Lula. E emendou: "Mas sempre tem gente que tem demais e joga o ovo porque pode comer coisa melhor".
Pela manhã, cerca de 60 pessoas fizeram manifestação em frente ao terminal de passageiros do aeroporto de Boa Vista inaugurado ontem. O grupo tinha faixas que diziam "Lula não vale nada" e "Lula entreguista". O presidente deu entrevista a rádios locais, inaugurou o terminal e seguiu para Bonfim, fronteira com a Guiana, sem entrar em Boa Vista.
Com isso, os manifestantes atiraram ovos nos carros Polícia Federal. Lula também não viu esse protesto. Quartiero brigou com o governo federal por causa da demarcação contínua da Raposa, à qual ele e os produtores de arroz da região eram contrários. Em março, o STF confirmou a demarcação contínua. Pela manhã, a rádios da região, Lula defendeu que nas áreas indígenas sejam construídas pousadas. "Queremos é desenvolver turismo muito forte e as reservas podem ser utilizadas para essa prática, com pousadas."
(Por Simone Iglesias e João Carlos Magalhães, Folha de S. Paulo, 15/09/2009)