Com a compra, grupo se torna um concorrente de peso para a BRF Brasil Foods no mercado de aves
A Marfrig Alimentos anunciou na noite desta segunda (14/09) a compra da Seara por US$ 900 milhões. A empresa é uma das maiores indústrias de processamento de aves e suínos do Brasil - é a principal concorrente da BRF Brasil Foods no segmento de aves - e pertencia desde 2005 à americana Cargill, que comprou seu controle, por US$ 130 milhões, da Bunge.
O valor do negócio envolve o pagamento de US$ 706,2 milhões em dinheiro e outros US$ 193,8 milhões em dívidas da Seara, e inclui nove unidades de abate, três plantas de produtos industrializados, nove fábricas de ração, seis granjas, um terminal no Porto de Itajaí (SC), as operações de distribuição e comercialização no exterior, além da própria marca Seara, que se junta às marcas atuais da Marfrig (DaGranja, Pena Branca e Mabella).
Com o negócio, a Marfrig passa a ter uma capacidade para abater 2,28 milhões de aves por dia, mais do que dobrando sua estrutura no setor avícola. No caso de suínos, a incorporação da Seara eleva de 4,2 mil para 10 mil animais por dia a capacidade de abate do grupo, e aproxima a empresa da BRF, que passa a ser sua principal concorrente, tanto no mercado interno quanto no externo. Hoje, a empresa resultante da fusão entre Sadia e Perdigão tem capacidade para abater 3,3 milhões de aves e 27,4 mil cabeças de suínos por dia.
Os rumores da aquisição da Seara começaram na sexta-feira, mas tanto a Marfrig quanto a Cargill disseram que não comentariam os boatos do mercado, fato que abriu espaço para aumento das especulações. Fontes consultadas disseram que a nova aposta estaria em linha com as estratégias da Marfrig, de crescer no segmento de produtos industrializados e continuar diversificando seu negócio, já que a empresa teve, durante boa parte de sua trajetória, as atenções voltadas para o mercado de bovinos. De acordo com o último balanço da Marfrig, a divisão de bovinos representou 27,2% de todo o faturamento do grupo, enquanto aves, suínos e produtos industrializados ficaram com uma fatia de 17% do total.
Recentemente, o grupo já havia anunciado que estava acelerando sua entrada na área de alimentos, para tentar ganhar mercado da BRF. Segundo a Marfrig, os próprios supermercados estariam estimulando a empresa nesse sentido, pois temem ficar nas mãos de uma só empresa. A Marfrig, porém, sentia falta de uma marca forte para fazer frente às marcas Sadia e Perdigão - as marcas atuais do grupo não têm tanta força em nível nacional. Com a Seara, a empresa resolve, de certa forma, esse problema.
Emissão de ações
Para a garantia da efetivação da operação, foi constituída reserva de crédito de longo prazo com o Bradesco no valor de R$ 1,3 bilhão. O financiamento da compra pode envolver aumento de capital da Marfrig, por meio de uma nova oferta primária de ações. A expectativa das empresas é que o negócio esteja concluído até dezembro, após a avaliação dos órgãos regulatórios no Brasil e no exterior.
"A companhia acredita que haverá benefícios significativos como resultado dessa transação. A Marfrig expandirá seu potencial com alimentos processados no Brasil, firmando-se como o segundo maior player no mercado interno e de exportação de aves e suínos e um dos maiores do mundo, ao mesmo tempo em que agrega a marca Seara em produtos processados de alto valor adicionado, de reconhecida importância nos mercados brasileiro e internacionais", diz a nota divulgada pelo grupo e assinada pelo seu presidente, o empresário Marcos Molina.
"Esses investimentos reforçam a estratégia da Marfrig de acelerar e diversificar a produção de produtos industrializados no Brasil, ao mesmo tempo em que amplia seu acesso direto aos mercados internacionais e acelera seu crescimento de forma balanceada e diversificada, aumentando sua base operacional", diz a nota.
(Por Alexandre Inacio, O Estado de S. Paulo, 15/09/2009)