A região de Barra do Riacho está se tornando o mais novo pólo industrial do Espírito Santo. Desta vez, a promessa é da geração de 360 empregos com a implantação da Unidade Industrial de Papéis Tissue, da Carta Brasil. Entretanto, diz a comunidade, a área está esgotada e já não suporta tantos impactos ambientais e sociais.
Ao todo, estão instalados na Barra do Riacho o porto da Fibria, Portocel, que está em expansão e deverá construir mais três novos quebra-mares, um novo berço para navios e dois novos armazéns, representando ainda mais prejuízos para a comunidade local, que já sofre com a falta de pescados e a falta de água quando a empresa desvia o leito do rio para suas fábricas.
Além da Fibria, o local abriga ainda o porto da Petrobras e da Jurong, próxima à área do Portocel, onde a empresa irá construir um estaleiro. A esperança dos pescadores é de serem aproveitados nas obras, mas, de acordo com a experiência, dizem eles, a comunidade quase nunca é aproveitada e acaba sofrendo porque as poucas atividades que lhe restam estão se extinguindo, como é o caso da pesca. Com tristeza, eles afirmam que o número de pescadores que conseguem sobreviver da atividade diminui a cada empreendimento construído na região.
Durante a audiência pública para discutir a construção do estaleiro da Jurgon, por exemplo, eles ressaltaram que a comunidade tradicional está oprimida pelos empreendimentos, perdendo seus valores e sua cultura sem que nada seja feito para impedir a agressão.
A informação da Associação de Pescadores da Barra do Riacho é de que os pescadores lutam há 10 anos para tentar minimizar os impactos do Portocel, que foi o primeiro grande empreendimento da região e é responsável por assorear o rio Riacho. Além disso, os pescadores já perderam a praia da Conchinha para os empreendimentos. A praia era freqüentada por crianças por ser plana e com águas calmas, mas agora está ocupada pelo Portocel.
Diante disso, temem os pescadores que, com os novos empreendimentos, o descaso se agrave. Isso porque a Jurong foi concebida por meio de uma parceria entre a prefeitura de Aracruz e a ex-Aracruz Celulose, que é a mesma responsável pelo Portocel. E, para completar, a nova indústria de papel também selará o início de uma cadeia produtiva com a Fibria, já que esta explora o norte do Estado há mais de 30 anos com seus monocultivos de eucalipto.
O projeto para a implantação da indústria de papel em Barra do Riacho já está na Câmara de Vereadores de Aracruz. O projeto prevê investimentos de R$ 587 milhões e uma produção estimada em 120 mil toneladas por ano de papel. Apesar dos anúncios da empresa, o local exato para a instalação do empreendimento ainda não foi revelado.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 11/09/2009)