"Ao chegar na portaria [da empresa Albrás], como normalmente eu chegava, vi que o vigilante, que já me conhecia, ficou muito assustado. Depois ele virou pra mim e falou: "Eu tenho uma notícia não muito boa para te dar". Eu até brinquei com ele perguntando: "quem foi que morreu?". Ele falou: "não, não, não se trata disso. É porque... está impedida a sua entrada aqui na empresa".
Foi dessa forma que o químico Manuel Paiva ficou sabendo que sua entrada na Albrás, empresa produtora de Alumínio da Companhia Vale do Rio Doce, estava proibida. Não recebeu nenhum comunicado oficial nem mesmo uma explicação. Só ficou sabendo ao chegar à portaria para participar de uma reunião com uma funcionária da Alunorte, empresa também da Vale, que trabalhava em uma sala da outra empresa, a Albrás. A foto de Paiva estava nos terminais de vídeo das três portarias da fábrica.
Manuel Paiva é funcionário da Alunorte há 14 anos e trabalhou na Albrás por 10 anos. Ele participa do movimento sindical da região de Barcarena e foi um dos autores do livro "Alumínio na Amazônia: saúde do trabalhador, meio ambiente e movimentos sociais", organizado pela Rede Fórum Carajás. Ele acredita que o livro tenha influenciado na decisão da empresa para que sua entrada fosse proibida.
"Nestes 10 anos que eu fui funcionário da Albrás não tem nada que desabone a minha conduta, pelo contrário. Tenho vários certificados de honra ao mérito em áreas de segurança, de saúde do trabalho, em meio ambiente. Hoje sou funcionário da Alunorte, que também é controlada pela Vale do Rio Doce, só que temos um acordo, uma sinergia, a gente usa o ambulatório da Albrás quando há necessidade e tem uma série de coisas que nos permitem, como funcionários de uma empresa de Vale, entrar na Albrás", explica Paiva.
Segundo ele, o constrangimento que passou no momento em que foi barrado foi o que o revoltou, já que a empresa poderia ter avisado de outras formas. Por outro lado, ele afirma que isso demonstra que o trabalho que estão fazendo com os movimentos sindicais e com o lançamento do livro está incomodando a empresa. "São eles que dão o brilho para nossas estrelas", afirma Paiva.
O livro, resultado de artigos de pesquisadores e especialistas do setor, será lançado no dia 24 deste mês, na Vila dos Cabanos, em Barcarena (PA). Manuel Paiva também participou da elaboração escrevendo sobre os movimentos sindicais da região de Barcarena. "Nós não estamos falando por informação, "eu acho", "parece", "me disseram". Estamos falando ali o que nós vivemos. O dia-a-dia", explica.
Veja a entrevista com o autor sobre o livro "Alumínio na Amazônia: saúde do trabalhador, meio ambiente e movimentos sociais"
(Amazonia.org.br, 11/09/2009)