Se houve efetivamente uma oferta de compra do empresário Eike Batista pelas ações da Bradespar na Valepar - holding que controla a Vale -, a negociação não passou pela empresa de participações do Bradesco, detentora de 21,21% do capital votante e de 17,5% do capital total da holding, apurou o Valor. A proposta de R$ 9 bilhões (US$ 4,9 bilhões convertida pela Ptax de quarta-feira, de R$ 1,8280), se existiu, foi entregue diretamente pelo presidente do grupo EBX à alta cúpula do Bradesco. Procurado, o empresário não quis se manifestar. O Bradesco também nada quis declarar sobre o assunto.
Fontes do mercado próximas da Bradespar afirmaram, porém, que a proposta do empresário foi considerada uma "má oferta" pela direção da empresa, "um valor irrisório" que não incluía sequer prêmio de controle pelos papéis. Cálculos do Banif Securities, em relatório divulgado esta semana, indicam que a proposta de Eike Batista teria que ter sido de no mínimo US$ 6 bilhões (R$ 10,9 bilhões pela mesma taxa de conversão da Ptax), podendo ir até US$ 8 bilhões (R$ 14,6 bilhões pela mesma taxa de conversão), considerando no caso, por se tratar da segunda maior mineradora do mundo, de um prêmio de controle em torno de 30% em relação ao valor atual da companhia.
A empresa de participações do Bradesco, criada em 2000 para abrigar investimentos em empresas não financeiras do banco, vem encolhendo continuamente seu portfólio. Nele constavam fatias da CSN, Scopus Tecnologia, Net Services e Bradesplan. Em 2003, a empresa chegou a desfazer-se de parte das ações que detinha na Valepar (cerca de 32%) para a trading japonesa Mitsui. Hoje, sua carteira se resume a participações na Valepar e no capital da CPFL (de 5,5%).
Apesar da dívida de R$ 800 milhões recém-negociada, fruto de notas promissórias lançadas no mercado por ocasião da operação de aumento de capital da Vale em 2008, agora convertidas em debêntures simples, a Bradespar tem uma situação financeira considerada "confortável" e alimentada por dividendos da Vale e da CPFL. Mas não está descartado mais uma redução nos investimentos.
Uma possibilidade é vender no mercado o resto dos papéis da CPFL. Já, no caso da Vale, se depender só da direção da Bradespar, não haverá negócio com Batista. O momento não é de venda. Hoje as ações da Vale e da Bradespar estão valendo a metade do que valiam antes da crise. Pelo visto, o sonho do bilionário da EBX de entrar na Vale terá de esperar.
(Por Vera Saavedra Durão, Valor Econômico, 11/09/2009)