Certamente grande parte da sociedade não notou que o termo Belo Monte é um anagrama de "Tombo Nele". Basta uma combinação das letras de Belo Monte para resultar em "Tombo Nele". Ao longo dos anos, aproximadamente 34, se considerarmos os primeiros estudos, existiram inúmeras tentativas de técnicos do setor elétrico buscando demonstrar a viabilidade do projeto do Complexo Hidrelétrico (CHE) Belo Monte.
Contudo, a sociedade sempre rejeitou a idéia do projeto de CHE Belo Monte. Devido à extensão da área inundada, e também pela significativa biodiversidade a ser destruída, CHE Belo Monte resultaria num "Tombo Nele" (meio ambiente) sem precedentes. Noutras ocasiões, o projeto de CHE Belo Monte foi descartado em virtude de aspectos econômicos, pois resultaria num "Tombo Nele" (Tesouro Nacional) também sem precedentes.
Em julho e agosto de 2009 alguns dos meios de impressa divulgaram que técnicos do governo se reuniram no Palácio do Planalto com representantes de comunidades indígenas, de organizações de proteção ao meio ambiente, acadêmicos e também engenheiros do setor de construção civil para debater o projeto de CHE Belo Monte. Em algumas dessas reuniões, por exemplo, com representantes de comunidades indígenas e de organizações de proteção ao meio ambiente houve, inclusive, a participação do presidente Lula.
Com a queda da liminar referente à Ação Civil Pública nº 2008.39.03.000071-9 (4ª Vara Única Federal da Seção Judiciária de Altamira-PA, do Tribunal Regional Federal - TRF 1ª região) movida pelo Ministério Público Federal, alguns setores da sociedade brasileira, especialmente aqueles que desde a ditadura militar tentam aprovar o projeto de CHE Belo Monte (lembrem-se que os estudos se iniciaram 34 anos atrás), têm buscado de qualquer forma dar início ao processo licitatório.
Os diferentes estudos de viabilidade do projeto de CHE Belo Monte elaborados pelo governo ao longo dos anos apresentam diferenças de estimativas orçamentárias que divergem na casa dos bilhões de reais. Isso mesmo, já foram apresentados valores de 6 bilhões, de 12 bilhões e, agora, tem-se um projeto com valores em torno de 24 bilhões de reais.
Devido às discrepâncias orçamentárias de bilhões de reais, cai bem ao projeto de CHE Belo Monte o apelido de projeto "Tombo Nele" (Tesouro Nacional). De "Belo" não há nada no projeto. As barragens que serão construídas no rio Xingu deverão ser um "Monte" de concreto para conseguir tombar o rio. Todavia, de "Belo" não há nada nesse "Monte" de concreto.
Girando o logotipo da empresa que ao longo dos anos vem buscando implementar o projeto de CHE Belo Monte, realmente tem-se um monte impedindo um rio. Considerando o histórico das licitações de obras públicas no Brasil, estou a imaginar quantos sacos de cimento serão necessários para construir o "Monte" de concreto. O cimento é barato?
Se porventura forem iniciadas as obras do projeto de CHE Belo Monte, provavelmente ocorrerá o que sempre aconteceu com outras obras de grande dimensão do setor elétrico (Tucuruí e Itaipu). A estimativa inicial de orçamento será excedida, tendo o Tesouro Nacional que liberar mais verbas para a conclusão das obras. Por isso é possível prever que o "Tombo Nele" (Tesouro Nacional) será inevitável, caso o projeto de CHE Belo Monte seja aprovado e iniciado.
Ainda sobre o projeto de CHE Belo Monte do rio Xingu, resta a dúvida dos motivos da agilização do governo em aprovar o projeto e dar início ao processo licitatório, principalmente em virtude de o ano de 2010 ser eleitoral. Todavia, nenhuma eleição custa 24 bilhões. Ou será que custa? Será que o projeto "Tombo Nele" também tem um viés eleitoral (adversário político)? Só o tempo dirá.
(Por André Saraiva*, Correio da Cidadania, 09/09/2009)
* Andre Saraiva é ex-pesquisador do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (CEPEL), empresa do Sistema Eletrobrás, além de engenheiro e advogado. Contato: andresaraiva@globo.com