Dentro de 40 anos, o Inverno vai deixar de ser branco. Pereiras e cerejeiras, ranúnculos e gerânios deverão começar a florir no final de Janeiro, quando a estação do frio ainda não terminou. Pelo menos oficialmente. Um novo estudo concluiu que em 2050, a Primavera vai chegar um mês mais cedo do que é tradicional.
Malcolm Clark, da Universidade Monash (Austrália), e Roy Thompson, da Universidade de Edimburgo, olharam com atenção para os registos das plantas dos Reais Jardins Botânicos de Edimburgo (RGBE) desde 1850 e para os registos meteorológicos relativos a Edimburgo desde 1775. O seu estudo, noticiado nesta quinta-feira (10/09) pelo jornal “The Guardian”, conclui que o “calendário botânico” já mudou para inúmeras espécies de plantas da colecção do RGBE, recolhidas ao longo de 150 anos em vários pontos do globo. Hoje, as plantas estão a florescer mais cedo porque as temperaturas estão, lentamente, a aumentar. Em zonas marítimas, por cada aumento de 1 grau Célsius, as plantas podem florir 16 dias antes. A culpa, dizem, é da subida das temperaturas médias das águas dos oceanos.
Os dois investigadores constatam que esta tendência será verificada na maioria das zonas costeiras do planeta, nomeadamente nas Ilhas Britânicas, Europa ocidental, costa atlântica dos Estados Unidos, Nova Zelândia, Chile e Norte de África. “Apesar de o estudo ser baseado na vida vegetal na Escócia, os nossos modelos aplicam-se a várias regiões”, disse Clark ao “The Guardian”.
Mas ainda que estas sejam boas notícias para os amantes das flores, muitos serão os amargos de boca, especialmente para agricultores, aves e insectos que dependem das plantas. Esta “dessincronização” pode fazer com que as plantas não estejam disponíveis quando os animais – como as aves e os insectos que se alimentam delas - precisam delas.
Tradicionalmente, a Primavera começa a 20 ou 21 de Março e termina a 21 de Junho. Mas os registos do Met Office (instituto de meteorologia britânico) indicam que a estação já está a começar a 1 de Março e a terminar a 31 de Maio. O problema é que o ritmo destas alterações é demasiado rápido para permitir às plantas se adaptarem e evoluírem. “No passado, as plantas acompanharam o ritmo do clima e depois da última Idade do Gelo tiveram muito tempo para migrar. No futuro, isso não vai acontecer”, disse Thompson. “Parece-me inevitável que vão ocorrer muitas extinções”.
Os impactos reais nas plantas ainda são difíceis de prever, dado que nem todas são tão sensíveis às alterações climáticas.
(Ecosfera, 10/09/2009)