Os agricultores da África austral podem estar perdendo toneladas de cultivos a cada temporada simplesmente porque ninguém se preocupou em dizer-lhes que os cientistas descobriram métodos mais efetivos de usar a água. Isaiah Mharapara, presidente do Conselho de Pesquisas Agrícolas do Zimbábue, disse que foi feita boa parte dos estudos sobre disponibilidade, distribuição e uso da água, mas a maioria das conclusões não foram compartilhadas com os produtores para que estes as aplicassem. “Também se desenvolveu tecnologia, principalmente para a microirrigação e irrigação convencional. Porém, boa parte destas pesquisas não sua usadas pelos agricultores. E essa informação precisa chegar a eles para que possam utilizar a água de maneira eficiente”, disse Mharapara à IPS.
A pesquisa vai além do uso da água superficial e também se centra nas camadas subterrâneas e nos pântanos, acrescentou Mharapara. “Também foram desenvolvidas tecnologias sobre o uso dos pântanos para os cultivos. Isto permite ao agricultor usar essas áreas úmidas de modo seguro e produtivo. Inclusive, desenvolvemos um sistema que permite produzir mais arroz, milho, feijão e verduras no mesmo pântano”, acrescentou, ressaltando que no Zimbábue já foram identificados oito locais para a agricultura de pântanos.
Cecília Makota, produtora de Zâmbia, acusou os políticos de não atenderem as necessidades dos agricultores de pequena escala. Disse que estes fizeram várias recomendações às autoridades sobre como aproveitar a água dos muitos rios e pântanos do país, mas que caíram em ouvidos surdos.
“Em Zâmbia, temos muitos rios. Também temos a represa de Kariba e quantidade de água subterrânea e de pântanos. O problema é que os políticos não ouvem as necessidades das mulheres. Como produtoras rurais, precisamos ser capacitadas sobre como utilizar a água”, ressaltou. Zâmbia divide a bacia do rio Zambezi com Zimbábue, Botswana, Angola e Namíbia. O país também tem vários outros rios, que Makota acredita não serem usados de modo eficiente.
Segundo Wole Olaleye, da Rede de Análise de Políticas sobre Alimentação, Agricultura e Recursos Naturais, é possível que os pesquisadores não estejam considerando todos os aspectos do uso da água que afetam as vidas dos produtores. Também pode haver outros fatores políticos e econômicos que tenham um papel no uso dos recursos hídricos. “Precisamos analisar se há espaço para fazermos uma análise da economia da água na África austral. Me pergunto se o problema é o crescimento demográfico ou se há outras questões”, disse Olaleye durante um debate sobre o uso da água da bacia do rio Limpopo, que se estende por Botswana, Moçambique, África do Sul e Zimbábue. Os agricultores de pequena escala culpam as leis existentes, que lhes dificulta o acesso à água.
“Necessitamos facilitar o diálogo criativo entre os que administram o país nesta área, na medida em que tem impacto nos pequenos produtores”, afirma Otto Mbangula, da União Nacional de Agricultores da África do Sul. “O atual contexto legal tem uma clausula que dificulta aos pequenos agricultores o acesso à água. As pessoas que controlam a água são as mesmas que a compraram há muito tempo”, afirmou. Por sua vez, Winston Ntseke, da União de Agricultores do Lesoto, afirmou que o principal desafio para os cultivadores é a infraestrutura. “Os produtores não podem fazer muito por conta própria”, já que carecem dos meios para desenvolver a infraestrutura necessária para extrair água, destacou.
Simon Cook, do Grupo Consultivo sobre Pesquisas Agrícolas Internacionais, disse que qualquer intervenção deve priorizar os pobres. “Devemos manter a atividade agrícola porque os mais pobres dependem da agricultura. Todo o resto vem depois”, afirmou.
(Por Vusumuzi Sifile, IPS / Envolverde, 09/09/2009)