A jornalista Tânia Maria Martins, 47 anos, tem recebido ameaças desde que começou a escrever sobre os danos causados ao meio ambiente no Estado do Piauí. A mais recente foi um “presente” inusitado: um tatu congelado, que mandaram entregar na sua casa, há cerca de uma semana. “Interpreto como intimidação”, desabafa. Não por acaso, tatus e cotias vendidos abertamente nas ruas de Teresina, capital do Estado, são o tema de sua próxima reportagem, que vai denunciar também a caça indiscriminada destes animais. “Já liguei três vezes para o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), insistindo para fiscalizar”, diz.
Tânia é repórter freelance do Jornal do Meio Ambiente, publicação mensal há 20 anos no mercado. Foi neste jornal que publicou, com o fotógrafo André Pessoa, as matérias sobre a destruição do ecossistema da região de Serra Vermelha que lhe geraram perseguição, perda do emprego como assessora de imprensa de um parlamentar e campanhas de difamação por parte dos envolvidos. As reportagens denunciaram a empresa JB Carbon S/A pelo desmatamento de uma ampla área na Serra Vermelha para a produção de carvão vegetal. Segundo investigações feitas por Tânia, o negócio teria ligação com o governo de Wellington Dias.
Como consequência das matérias, a Justiça suspendeu a autorização concedida pelo Ibama à JB Carbon. A empresa havia remodelado o projeto inicial, e criado outro, chamado Energia Verde. Mas a desembargadora federal Selene Maria de Almeida considerou que a região de Serra Vermelha, onde se encontra o polígono do Energia Verde, “é a última floresta no semi-árido nordestino brasileiro. (...) portanto, é importante para a conservação da biodiversidade da região”. Disse ainda que o Ibama havia dado a autorização sem realizar os estudos de impacto ambiental exigidos por lei.
Apesar de não se intimidar, Tânia tem motivos para ficar preocupada. Situações estranhas aconteceram a pessoas que ousam falar dos danos ao meio ambiente. Um apicultor de Curimatá, por exemplo, que havia reclamado no Ibama dos estragos causados por uma empresa, foi encontrado morto tempos depois. Há suspeitas de que tenha sido envenenado.
Em outra reportagem, após publicar os nomes dos grileiros de terras, a repórter recebeu um telefonema marcando um encontro para “tomar um café” – desconfiou, podia ser uma armadilha. Mantém cuidados redobrados, mas não pretende parar com as denúncias. Ela é uma das poucas jornalistas que cobre a questão ambiental no Estado. Escrever sobre o meio ambiente faz parte de sua ideologia de vida, afirma.
O apoio de organizações como a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e de entidades de meio ambiente dão fôlego a Tânia para seguir com seu trabalho. Em 2009, ela e o fotógrafo André Pessoa receberam o Prêmio Amigo da Mata Atlântica, concedido pela Rede de ONGs da Mata Atlântica, que congrega mais de 300 ONGs de todo o Brasil. O prêmio reconheceu a importância do trabalho de Pessoa e de Tânia, que levou à suspensão do projeto Energia Verde e reforçou a luta para a criação de um Parque Nacional naquela área.
(Por Clarinha Glock, Apremavi, 09/09/2009)