O Irã entregou nesta quarta-feira (09/09) aos representantes das grandes potências um novo pacote de propostas sobre seu programa nuclear com o objetivo oficial de criar "uma nova oportunidade para discussões na perspectiva de uma cooperação mútua", mas os Estados Unidos alertaram que Teerã está muito perto de obter a arma nuclear.
O ministro das Relações Exteriores, Manuchehr Motaki, entregou aos ministros da Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha, assim como à embaixadora da Suíça, que representa os interesses americanos no Irã, um exemplar das propostas iranianas durante uma breve cerimônia organizada no chancelaria.
Na terça-feira, o chanceler iraniano Manuchehr Mottaki anunciou que as propostas haviam sido atualizadas, levando em consideração os processos desenvolvidos no mundo. "O Irã está agora muito próximo de ter, ou já tem, a quantidade suficiente de urânio pouco enriquecido para fabricar uma bomba nuclear", declarou o negociador americano Glyn Davies aos representantes da Agência Internacional da Energia Atômica (AIEA) em Viena.
"Como o Irã se recusa a explicar à AIEA os trabalhos realizados no passado para fabricar uma ogiva nuclear, tememos que o Irã possa, no mínimo, manter a opção nuclear militar", destacou o diplomata, frisando que Washington continua aberto ao diálogo com Teerã. "Estamos muito preocupados, mas não precisamos entrar em pânico, pois não observamos desvios de materiais nucleares e não constatamos a presença de elementos de armas nucleares. Não temos informações neste sentido", ponderou nesta quarta-feira o diretor-geral da AIEA, Mohamed ElBaradei.
Sobre a entrega, a Teerã, das propostas iranianas aos embaixadores dos seis países envolvidos nas negociações (EUA, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha), o embaixador iraniano na AIEA, Ali Asghar Soltanieh, disse que elas constituem "uma oportunidade para os que estão dispostos a entrar em verdadeiras negociações, baseadas no respeito mútuo". "Estas propostas demonstram a determinação do Irã em seguir adiante com um processo de ação, de diálogo e de negociação civilizada", acrescentou.
Os dirigentes iranianos ressaltaram, porém, que Teerã está disposto a retomar as negociações com as grandes potências para conversar sobre os principais problemas mundiais, e não sobre uma eventual suspensão de seu programa nuclear.
A União Europeia se disse nesta quarta-feira em Viena "muito preocupada" com a recusa do Irã em esclarecer a existência de pesquisas supostamente conduzidas para fabricar um míssil nuclear. ElBaradei conclamou o Irã a não deixar escapar a proposta de diálogo emitida pelo governo americano do presidente Barack Obama.
Em seu último relatório, a AIEA afirmou que Teerã já produziu "no mínimo 1.430 kg de hexafluoreto de urânio pouco enriquecido (UF6)", lembrou o diplomata americano. De acordo com os especialistas, são necessários entre 1.000 e 1.700 kg deste tipo de urânio para produzir o urânio altamente enriquecido necessário para uma bomba atômica.
Garantindo que seu programa nuclear é de uso exclusivamente civil, o Irã rejeitou qualquer congelamento de suas atividades de enriquecimento, apesar de cinco resoluções do Conselho de Segurança da ONU neste sentido, três delas acompanhadas de sanções. Em seu último relatório, a AIEA observou que Teerã diminuiu a produção de urânio enriquecido. No entanto, segundo diplomatas ocidentais, esta redução pode ter sido provocada por panes.
(AFP / UOL, 09/09/2009)