Companhia foi recentemente alvo de críticas do Planalto por reduzir investimentos durante a crise
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nesta terça (09/08) à tarde o presidente da Vale, Roger Agnelli. Eles conversaram por cerca de duas horas e Agnelli saiu do CCBB (sede provisória do governo) sem dar entrevista. O Palácio do Planalto se limitou a informar que conversaram sobre os negócios da Vale. Em 16 de agosto, a Folha noticiou que, nos bastidores, o governo Lula ameaçou interferir no comando administrativo da Vale a fim de levar a empresa a fazer investimentos considerados estratégicos pelo Planalto -sobretudo em siderurgia.
Segundo a Folha apurou na época, Lula mandou recado ao Bradesco, que indicou o presidente da Vale, Roger Agnelli, a partir de acordo de acionistas que envolveu o grupo japonês Mitsui, um consórcio de fundos de pensão e o BNDES. Insatisfeito com a ação da Vale durante a crise -grande exportadora, a empresa foi uma das mais atingidas pela retração mundial e reduziu investimentos-, Lula ameaçou pressionar a Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) e a BNDESPar (braço do BNDES para sociedade em empresas) a usar suas ações com direito a voto para mudar o comando da mineradora. O ápice da pressão foi em julho, segundo um auxiliar direto do presidente Lula.
A Vale também tornou-se alvo das investidas do empresário Eike Batista, que quer entrar no controle da mineradora, comprando a fatia do Bradesco. A Folha apurou que, em 19 de agosto, Eike esteve na sede do Bradesco, em Osasco (SP), para entregar a Lázaro Brandão, presidente do conselho de administração do banco, proposta de compra da Bradespar, que reúne ativos não financeiros da instituição. A Bradespar tem 17,5% da Valepar, controladora da Vale com 53% de seu capital votante. O negócio pode superar os R$ 9 bilhões, contabilizada a oferta que Eike terá de fazer aos acionistas minoritários caso concretize a compra.
Operação financeira
Ontem a Vale informou que emitiu no mercado internacional US$ 1 bilhão em notas com vencimento em 2019. A operação é a segunda desse tipo feita pela empresa, resultando em rendimento para o investidor de 5,727% ao ano. Em julho, a Vale captou US$ 942 milhões em notas com vencimento em 2012. Na ocasião, o rendimento pago ao investidor foi de 6,75% ao ano.
Em comunicado, a Vale afirmou que "utilizará os recursos para propósitos corporativos em geral". A mineradora também informa que os bônus se constituem em obrigações não garantidas da Vale Overseas e terão garantia completa e incondicional da Vale. A emissão foi protocolada na SEC, a versão americana da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
(Folha de S. Paulo, 09/09/2009)