Se pichadores e autoridades estivessem disputando um cabo de guerra na cidade, poderia se dizer que a corda estaria pendendo mais para o lado dos marginais. Isso porque o poder público, polícias e a própria Justiça não conseguem pôr fim à sujeira que enfeia o patrimônio público e particular dos caxienses prendendo os responsáveis pelas pichações e evitando que reincidam em novas ações.
Aproveitando-se da situação, pichadores se especializam e inventam novos jeitos de aparecer. Recentemente, dois lugares na região Central foram emporcalhados com tinta verde. Sobre paredes e janelas surgiram símbolos inteligíveis com mais de quatro metros de altura. Suspeita-se que para conseguir o resultado os grupos utilizem extintores de incêndio abastecidos com tinta ou mesmo compressores de ar.
A ação rápida e articulada dos pichadores, segundo o secretário municipal da Segurança Pública e Proteção Social, Roberto Louzada, seria o principal motivo pelo qual as cerca de 20 denúncias feitas pela população até agora ao Disque-Vandalismo (pelo fone 153) não terem resultado em prisões. O projeto, criado pela prefeitura em junho, tem como objetivo incentivar a população a denunciar casos de vandalismo, entre eles a pichação, e trabalhar na conscientização de alunos de escolas municipais por meio das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes e Violência Escolar (Cipaves).
– A comunidade tem de nos ajudar. Tenho convicção de que um dia vamos conseguir colocar a mão nesses pichadores. Já tivemos resposta positiva no caso dos contêineres. Agora é uma questão de tempo – acredita Louzada.
O comandante do 12º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Júlio Cesar Marobin, diz que a Brigada Militar tem feito algumas prisões quando recebe denúncias ou quando percebe a ação de pichadores por meio das câmeras de vigilância instaladas em vários pontos da cidade.
No entanto, ele também afirma que a ação rápida e geralmente durante a noite impede que ocorram mais prisões.
– É muito importante que as pessoas denunciem e registrem a ocorrência. Trabalhamos sempre com a hipótese de alguém estar testemunhando o fato. Isso facilita o mapeamento de áreas mais vulneráveis e a realização de rondas mais frequentes. É importante que a testemunha também não afugente o pichador, mas nos chame para que possamos fazer a prisão em flagrante – afirma.
Uma vez que o pichador for preso, segundo Marobin, é feito um trabalho conjunto com a Polícia Civil. A ideia é tentar identificar, com base nos escritos feitos pelo detido, outras pichações na cidade.
O delegado Vitor Carnaúba, titular do 1º Distrito Policial, responsável pela área central da cidade, diz que as prisões ocorridas até agora foram frutos de flagrantes, ou pela Guarda Municipal ou pela Brigada Militar.
O delegado não soube precisar quantas pessoas já foram responsabilizadas criminalmente pelo crime, enquadrado como dano ambiental. No entanto, ele diz que um caso está sendo investigado no 1º DP.
– Para muitas pessoas, não parece um crime grave, mas o mal para a sociedade é muito grande. Infelizmente, a pena muito leve não é suficiente para coibir a prática do crime. Se ele fosse punido mais severamente, o resultado para a sociedade seria melhor – entende.
(Por Eliane de Brum, O Pioneiro, 09/09/2009)