Com a finalidade de instruir a votação do projeto que cria uma nova Política Nacional de Integração Lavoura/Pecuária/Floresta, a Comissão de Meio Ambiente e Defesa do Consumidor (CMA) realizou uma audiência pública com representantes do governo e das associações de produtores. Os agricultores reivindicaram mais crédito rural e financiamento para projetos, bem como programas de educação e treinamento para produtores rurais nas novas tecnologias em questão.
Durante a audiência pública, o representante da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), José Manoel Caixeta Haum, disse que a confederação aprova o programa de integração lavoura/pecuária, porque representa uma alternativa de renda para o produtor. Segundo Haum, o projeto precisa ser implantado em etapas e dentro de um prazo alongado, incluindo diretrizes de educação ou treinamento, para que produtores e seus empregados entendam as vantagens da adoção do programa.
Caixeta Haum alertou para a necessidade de a nova política ser cercada de cautelas, como um alerta aos produtores para não fazerem grandes investimentos iniciais, porque o retorno é demorado e todos os produtores têm problemas financeiros. Haum disse ainda que a vinculação do programa deverá ser com o Ministério da Agricultura, para que a política seja olhada como uma alternativa de produção, e não de defesa do meio ambiente.
Brent Millikan, da ONG Amigos da Terra, disse que a organização realizou um seminário sobre o assunto que incluiu o exame de fazendas modelo de gado que obtiveram redução de desmatamento e da emissão de gases estufa, apesar do aumento de produção e de produtividade. Para o representante da Amigos da Terra, existe plena compatibilidade entre rentabilidade financeira e respeito às regras de preservação da floresta e do meio ambiente, pois as fazendas modelo apresentam lucro líquido entre 40 a 45% maior do que as fazendas convencionais.
Brent Millikan disse que o Brasil está no limiar de um novo patamar de boas práticas de produção, se houver apoio de incentivos fiscais e creditícios e programas de educação e treinamento para produtores rurais. Millikan garantiu que a recuperação de pastagens degradadas representa uma prática que gera lucro para todos.
Alysson Paulinelli, ex-ministro da Agricultura e hoje representando o Grupo Campo, disse que desenvolver os projetos de integração lavoura/pecuária com tecnologia moderna é possível e rentável, "desde que haja dinheiro farto e sem burocracia". Para o ex-ministro, se o Senado estiver interessado em disseminar novas tecnologias de integração lavoura/pecuária será preciso garantir mais financiamento e crédito rural, uma vez que "as atuais políticas públicas não estão funcionando adequadamente".
Paulinelli lembrou ser um produtor rural em Minas Gerais que, há dez anos, pratica essa integração, tendo recuperado boa parte das pastagens degradadas que havia na propriedade que comprou, na região próxima do aeroporto de Confins, em Belo Horizonte.
Paulinelli reconheceu que a atividade pecuária exaure o solo e somente com uma tecnologia de manejo, integração lavoura/pecuária e muita água é possível se ter sucesso. O ex-ministro se queixou da legislação sobre uso da água, que pode impedir que o produtor rural use a água que ele próprio produziu com sua tecnologia de manejo. Paulinelli afirmou ser impossível aumentar a produtividade dos rebanhos sem ter acesso a crédito financeiro e a políticas públicas de financiamento agrícola sem burocracia.
- Forneço todo o milho e a soja que meu rebanho precisa, porque sai mais barato. Ando no fio da navalha, porque faço manejo na pastagem renovada pela lavoura. Sou produtor de novilho precoce, mas se não houver mais crédito governamental, terei dificuldades em manter minha produção, menos ainda em ter sucesso em qualquer tentativa de expansão de minhas atividades rurais - concluiu Alysson Paulinelli.
(Por Laura Fonseca, Agência Senado, 08/09/2009)