Passo Fundo é berço de cinco das 25 bacias hidrográficas do Estado. Nas terras do município nascem águas que abastecem e são responsáveis diretas pelo desenvolvimento de 61% dos municípios gaúchos: 302 dos 496. Em uma grande área situada no interior da cidade, no distrito de Povinho Velho, entre Passo Fundo e Mato Castelhano, existe uma vereda de pequenas nascentes que são as formadoras das bacias do Passo Fundo, Alto Jacuí, Apuaê-Inhandava e Taquarí-Antas.
Pequenos banhados se desmembram em quatro braços diferentes, que seguem destinos contrários. Um dos braços vai formar, depois de percorrer mais de 100 quilômetros e se juntar a dezenas de rios e riachos, a grande bacia do rio Jacuí, que contribui com 85% das águas formadoras do Lago Guaíba. Em outro ponto do município, não muito distante do primeiro, outras nascentes dão início à quinta bacia hidrográfica com berço na cidade, a do rio da Várzea.
Riqueza não é valorizada
Apesar da importância da área onde estão situadas as nascentes, a grande maioria não é preservada. É o que afirma Maria Helena Bassan Benedetti, agrônoma da agência regional do Departamento de Florestas e Áreas Protegidas (Defap) da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema). Segundo ela, a área deveria passar por uma reformulação, objetivando que todas as nascentes e banhados passem a ser mantidos da forma original.
“As nascentes não se encontram protegidas, principalmente pela ocupação econômica, com lavouras e criação de gado. Além disso, existe ainda a transformação de banhados com nascentes importantes em açudes. Isso altera todo o ecossistema”, revela. Para Maria Helena, a solução para a defesa desses recursos, evitando que se extingam com o passar dos anos, é a mudança comportamental, com mais atuação das autoridades no sentido de fazer valer a legislação vigente, que proíbe a ocupação no entorno das nascentes.
Já o professor da UPF Claud Ivan Goellner, que preside os comitês de gerenciamento das bacias hidrográficas do rio Passo Fundo (CBHPF) e Alto Jacuí (Coaju), defende que a área “seja de fato manejada como Unidade de Conservação Municipal”. Para isso, segundo Goellner, já existe um projeto em andamento com os grupos ecológicos locais, entre eles o Grupo Ecológico Sentinela dos Pampas (Gesp), para transformar a bacia em área protegida.
Para o diretor do Gesp, Paulo Fernando Oliveira Cornélio, a riqueza hídrica da cidade ainda é pouco valorizada. “Historicamente, os gestores públicos não reconheceram esta riqueza importante. Passo Fundo foi fundada com nome de rio e toda a cidade é gerida economicamente por este recurso hídrico. O município talvez ‘não existiria’ sem estes atributos naturais tão importantes”, garante.
Situação do rio preocupa
Cartão postal e rio que dá nome a cidade. Seriam fatores determinantes para que o Passo Fundo recebesse atendimento especial das autoridades, comunidade e das indústrias instaladas no local. Seriam, mas não é o que sempre acontece. A comprovação está nas amostras de água colhidas na área urbana do rio. No trecho situado ao lado da prefeitura municipal, por exemplo, o nível de poluição, em uma escala que vai de um a quatro, está entre os patamares três e quatro, sendo que o último é característico de esgoto. Isso se dá, segundo Goellner, principalmente pela falta de saneamento. “Apenas 20% do esgoto urbano da cidade é tratado”, revela ele. Na área rural da cidade, explica o professor, a situação melhora, e a água é avaliada na maioria dos pontos como de classe dois.
Saiba mais sobre as cinco bacias
Bacia do Rio Passo Fundo
Abrangência: 30 municípios
Cidades mais importantes: Passo Fundo, Erechim e Sarandi
Área: 4,8 mil km²
Rios mais importantes: Passo Fundo, Índio e Erechim, além dos arroios Butiá e Timbó
População atingida*: 169 mil habitantes
Bacia do Alto Jacuí
Abrangência: 47 municípios
Cidades mais importantes: Passo Fundo, Carazinho, Cruz Alta, Soledade, Marau e Ibirubá
Área: 16 mil km²
Rios mais importantes: Jacuí, Jacuí-Mirim e Jacuizinho
População atingida*: 360 mil habitantes
Bacia do Apuaê-Inhandava
Abrangência: 52 municípios
Cidades mais importantes: Erechim, Getúlio Vargas, Lagoa Vermelha, Tapejara e Vacaria
Área: 14,8 mil km²
Rios mais importantes: Apuaê/Ligeiro, Inhandava/Forquilha, Bernardo José, Cerquinha, Santana e Arroio da Divisa
População atingida*: 292 mil habitantes
Bacia do Taquarí-Antas
Abrangência: 119 municípios
Cidades mais importantes: Marau, Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Vacaria e Veranópolis
Área: 26 mil km²
Rios mais importantes: das Antas, Taquari, Guaporé
População atingida*: um milhão de habitantes
Bacia do Rio da Várzea
Abrangência: 54 municípios
Cidades mais importantes: Passo Fundo, Carazinho, Frederico Westphalen e Palmeira das Missões
Área: 9,5 mil km²
Rios mais importantes: da Várzea, Porã, Barraca, do Mel, Guarita e Ogaratim.
População atingida*: 324 mil habitantes
* A população atingida não corresponde ao número total de habitantes dos municípios de abrangência, já que a bacia hidrográfica muitas vezes não compreende todo o território municipal. A bacia do Rio Passo Fundo, por exemplo, contempla menos de 40% da área do município.
Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Alto Jacuí
Assessoria de Comunicação Social
Jornalista responsável – Bruno Todero - Mtb 13808
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(Sema, 08/09/2009)