É da Amazônia brasileira a solução para a sobrevivência de espécies de plantas aos efeitos do aquecimento global, e chama-se áreas de campina. A novidade foi anunciada pelo pesquisador Carlos Alberto Cid Ferreira, do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa), durante seminário realizado no início de agosto em Manaus (AM). As vantagens das campinas estão descritas em tese de doutorado defendida recentemente por Cid Ferreira. Na Amazônia, o termo campina se refere a paisagens caracterizadas por possuir vegetação de porte baixo e aberta. Ocorre sempre em áreas de areia branca (Prance, 1975) e pode ser considerado um ambiente de pouca biomassa (Bongers et al., 1985).
Em sua tese, Ferreira descreve e compara do ponto de vista florístico e fitossociológico, nove campinas na Amazônia. Ele estudou as áreas de campinas das regiões do Parque Estadual da Serra do Araçá (AM), Cantá (RR), Serra do Cachimbo (PA), Cruzeiro do Sul (AC), rio Araçá (PA), Porto Grande (AP), Vigia do Nazaré (PA), Parintins (AM) e a do Parque Nacional do Viruá (RR).
Novas descobertas
A pesquisa de Cid Ferreira também descobriu dois novos gêneros de vegetação, mas as espécies não foram incluídas na parte da dissertação de doutorado. Explicou que não apresentou os novos gêneros, mas se disse disposto a fazer um novo inventário para aprofundar os estudos da descoberta.
Segundo Ferreira, a preservação das áreas de campinas é de fundamental importância para os ecossistemas amazônicos. "Quando elas [campinas] são retiradas definitivamente, ocorrem problemas às outras espécies arbóreas que estão em sua volta", explica. A preservação e a manutenção desse tipo de floresta são estratégicas para a Amazônia, "uma vez que, no futuro, essas plantas irão suportar temperaturas "elevadíssimas" decorrentes do aquecimento global.
"Se você destrói, a floresta amazônica não suportaria os incêndios e demais conseqüências da elevação da temperatura", ressalta Cid Ferreira, estudioso do Inpa acerca da questão climática na região.
Distribuição geográfica
Durante seu estudo, Cid Ferreira levou em consideração vários aspectos regionais para mapear a incidência da espécie. Os principais deles foram o porte das árvores, o tipo de solo e especialmente a distribuição geográfica. Segundo ele, a distribuição geográfica foi de grande importância para desfazer confusões relacionadas ao nome da espécie.
"A planta [campina] recebia outro nome – campinarana –, fato que ainda causa confusão na cabeça do leitor", diz. "A campinarana não é campina, uma vez que o que identifica o ambiente são os seus constituintes". Cid Ferreira constatou que a análise de distribuição das espécies, juntamente com estudos de similaridade florística e de ordenamento MDS (Escalonamento multidimensional não-métrico) indicam alguns padrões fitogeográficos para as campinas.
Um deles, segundo o pesquisador, é a grande afinidade florística entre as campinas amazônicas e a vegetação do Escudo Guianense e dos Llanos venezuelanos e colombianos e campinas no contato da bacia amazônica com o Escudo Brasileiro – entre as quais as da Serra do Cachimbo – que apresentam maior influência da vegetação do cerrado.
Outros padrões são as campinas do leste da Amazônia. Elas apresentam influência mista das floras do Escudo Guianense e do Escudo Brasileiro; a baixa afinidade da flora das campinas com a da Restinga Atlântica e campinas do extremo oeste da Amazônia brasileira – a de Cruzeiro do Sul, no Acre, por exemplo – são diferenciadas das demais.
(Por Chico Araújo*, Agência Amazônia / Envolverde / Antes que a natureza morra, 13/08/2009)
* Com informações de Annyelle Bezerra, do Inpa