As metas de expansão da produção de álcool apresentadas no lançamento do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), há três anos, sustentaram-se principalmente por conta do forte crescimento do mercado interno, impulsionado pela crescente frota bicombustível (flex). Em 2006, os números do setor chegavam a apontar a possibilidade da construção de mais de cem usinas até 2010. O próprio governo, no entanto, reduziu o número e avaliou que 77 tinham condições de serem de fato implementadas. Até agora, 64 foram construídas.
Em relação à produção, que em 2006 era de aproximadamente 18 bilhões de litros por ano, a meta era chegar a 23,3 bilhões em 2010. Essa projeção, no entanto, já foi superada: a produção atual é de 27,5 bilhões de litros por ano. O desempenho no mercado externo também ficou acima das expectativas. Em 2006, o governo avaliava que até 2010 estariam sendo exportados 5 bilhões de litros de álcool por ano, meta alcançada em 2008.
Dois projetos do PAC, porém, não tiveram o desempenho esperado. O alcoolduto entre o porto de Paranaguá (PR) e Cuiabá (MS) não tem viabilidade econômica e foi temporariamente abandonado. Outro duto, de Senador Canêdo (GO) ao porto de São Sebastião (SP), teve as metas alteradas. Até 2010, só será possível inaugurar o trecho que liga o porto até a cidade de Uberaba (MG). O resto do trajeto deverá ser feito depois.
Na avaliação de Ricardo Dorneles, diretor de Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia, as metas do PAC em relação ao álcool eram tímidas. "As metas foram feitas antes do boom dos automóveis flex, em 2006", explicou.
Boom do flex
Em 2005, de acordo com a Anfavea, o país produziu 776.164 carros flex. No ano seguinte, houve aumento de 60%, com a produção de 1.248.062 automóveis bicombustíveis. No ano passado, a produção foi de 1.984.941 veículos. Esse aumento da frota se reflete no consumo de álcool hidratado: era de 6,18 bilhões de litros em 2006, segundo o Sindicom (Sindicato Nacional dos Distribuidores de Combustíveis), e passou para 13,3 bilhões de litros em 2008: alta de 115%.
A importância do mercado interno pode ser observada a partir do perfil da produção de álcool na safra atual. Deverão ser produzidos 8% mais álcool do que na safra passada. Desse total, haverá redução de 22% no álcool anidro (que é exportado) e aumento de 23% no álcool hidratado.
Mas, apesar de a meta do PAC para exportação ter sido atingida, Dorneles avalia que a performance do mercado externo ainda está aquém do esperado. Para este ano, por conta da crise financeira, é esperada uma redução de até 14% nas exportações. A crise não deve afetar os investimentos para 2010, mas deve atingir os planos de 2011 e 2012.
(Por Humberto Medina, Folha de S. Paulo, 07/09/2009)