O movimento a favor das mudanças climáticas está aquecendo o mercado de usinas nucleares, disse ao Valor Johannes Höbart, diretor no Brasil da Areva, gigante francesa do setor nuclear. Höbart informou que a empresa já tem vários novos projetos em carteira, sendo quatro em fase de construção: um na Finlândia, dois na China e um na França, além de conversas com interessados nos Estados Unidos e Inglaterra. Por causa da crise, um projeto na África do Sul foi adiado.
No Brasil, a Areva, que ergueu a usina nuclear de Angra 2, vai construir Angra 3. E ainda planeja participar das licitações das quatro novas usinas que o governo brasileiro pretende construir até 2030. Antes disso, a empresa estará trabalhando em Angra 3. Höbart prevê que até o fim do ano os contratos que vai assinar com a Eletronuclear para a construção da usina já estarão totalmente revistos e com suas cláusulas atualizadas, já que datam da década de 70, época em que o general Ernesto Geisel, então presidente do país, assinou o acordo nuclear com a Alemanha e a Areva tinha outro nome e trabalhava em conjunto com a Siemens.
Depois da revisão, o próximo passo será a assinatura do contrato entre as partes para construir a terceira usina em Angra, com potência de 1.400 megawatts, que deverá iniciar operação em 2014.
Höbart prevê que a implantação do novo programa nuclear brasileiro começará no prazo entre dois e três anos, quando será aberta licitação para a primeira nova usina nuclear, com potência de 1 mil megawatts. O cronograma prevê que ela deve estar pronta até 2019. "Uma usina nuclear leva no mínimo cinco anos para ser construída", disse Höbart. No momento, a Eletronuclear está definindo o local da nova usina, que deve ser instalada no Nordeste. Quem definirá o tipo de reator da nova usina será a Eletrobrás, da qual a Eletronuclear é subsidiária.
O executivo da Areva disse que a empresa está construindo agora o que denomina de reator da terceira geração, que dá segurança passiva (dispensa equipamentos de fora) em caso de ameaça de vazamento, evitando acidentes graves. O reator moderno é programado para ter vida útil de 60 anos, o que barateia o equipamento. Também tem a vantagem de utilizar combustível avançado, que consome menos urânio, além de reciclar o combustível já utilizado pela usina, diminuindo o volume de lixo atômico.
A questão do lixo atômico é a mais polêmica no tocante à usina nuclear, que não emite CO2. O Brasil, segundo Höbart, está com projeto de construir um repositório intermediário para o lixo atômico e um depósito final. Até agora o lixo atômico brasileiro fica dentro das próprias usinas de Angra 1 e Angra 2. A Areva diz deter a tecnologia de armazenagem do lixo atômico, já que na França funcionam 54 usinas nucleares.
O lema da Areva é "CO2 Free". Por isso, além da energia nuclear, a empresa trabalha também com biomassa e energia eólica. Ela tem uma empresa no Brasil para a construção das chamadas PCHs (pequenas centrais hidrelétricas), a Koblitz, adquirida em 2008, e uma empresa de equipamentos de transmissão e distribuição de energia. Presente em mais de cem países, o faturamento da Areva atingiu €12 bilhões no ano passado.
(Valor Econômico, 04/09/2009)