Novo estudo mostra que peixes expostos ao estrogênio ficam mais suscetíveis à ação de bactérias, fungos e vírus causadores de doenças
Estudo do Levantamento Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês) mostrou que a exposição ao estrogênio reduz a capacidade de peixes produzirem proteínas imunológicas (que ajudam a evitar doenças) e indicam uma possível relação com a ocorrência de peixes intersexuais e a recente mortandade nos rios Potomac e Shenandoah. O relato, publicado na edição de junho de Fish & Shellfish Immunology, se soma a um crescente número de pesquisas que relatam problemas com os níveis de estrogênio encontrados em rios americanos.
Outra pesquisa encontrou evidências de exposição de estrogênio em populações de peixes marinhos e de água doce. Em trabalho anterior, cientistas da USGS encontraram ocorrências generalizadas de peixes com características "intersexuais" ─ peixes machos carregando células-ovo femininas imaturas nos seus testículos – nos rios Potomac e Shenandoah. Outros pesquisadores também observaram problemas semelhantes em peixes no sul da Califórnia e em laboratórios no Canadá e nos Estados Unidos. Os pesquisadores não detectaram a fonte de estrogênio, mas suspeitam que resulte de alguns poluentes e medicamentos nos cursos d'água.
Para a nova pesquisa, os cientistas da USGS injetaram estrogênio no achigã, em testes de laboratório, e descobriram que o peixe produziu níveis mais baixos de hepcidinas ─ proteínas que regulam o ferro e podem ser a primeira linha de defesa contra bactérias, fungos e vírus causadores de doenças.
Os achigãs normalmente produzem dois tipos dessas proteínas protetoras. Após serem expostos ao estrogênio, reduziram a produção de um tipo de proteína. O efeito dessa mesma exposição, associado a bactérias, bloqueou a produção do outro tipo. Os pesquisadores avaliam que isso poderia explicar por que os rios Potomac e Shenandoah lideram na ocorrência de peixes intersexuais, lesões e mortes de peixes.
"O fato de o estrogênio bloquear a produção de hepcidinas em peixes expostos a bactérias apoia a teoria de que o estrogênio ─ ou produtos químicos que mimetizam o estrogênio ─ pode deixar os peixes mais suscetíveis a doenças", observa Laura Robertson, que realizou a pesquisa.
Peixes machos com a capacidade de desenvolver ovos imaturos dentro dos seus órgãos sexuais foram encontrados, pela primeira vez, em um córrego da Virgínia Ocidental, em 2003, levantando suspeitas de que houvesse disruptores endócrinos na água; apesar de repetidos testes, os pesquisadores não encontraram nada.
Em estudo de 2006, os cientistas da USGS detectaram um disfunção endócrina generalizada em achigãs e seus parentes, os achigãs-de-boca-pequena, nos rio Potomac e seus afluentes, em toda a extensão dos estados de Maryland e Virgínia. Testes nos achigãs-de-boca-pequena do rio Shenandoah, na Virgínia, e no rio Monocacy, em Maryland, ─ ambos alimentam o Potomac ─ concluíram que mais de 80% de todos os achigãs machos estavam criando ovos.
Grupos ambientalistas americanos solicitaram que a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) proíba produtos químicos utilizados em diversos detergentes caseiros ligados à disfunção endócrina e mudanças de gênero de peixes. Um desses produtos químicos, o nonilfenol, imita o estrogênio. Grupos ambientalistas querem que a EPA utilize os meios legais existentes, que constam no Decreto para Controle de Substâncias Tóxicas, para regulamentar o uso de substâncias específicas.
(Por Allison Winter, Scientific American Brasil, 26/08/2009)