Devido à grande oferta no Brasil e ao mercado existente para o farelo oriundo da soja, essa oleaginosa deverá permanecer como a principal matéria-prima usada para a fabricação do biodiesel nacional nos próximos anos. O coordenador da Comissão Executiva Interministerial do Biodiesel, Rodrigo Augusto Rodrigues, acredita que outras opções, como a palma e o pinhão manso, que têm maior teor de óleo do que a soja, levarão de seis a oito anos para conquistar mais espaço.
Cerca de 80% do biodiesel produzido em 2008 no País utilizou a soja como insumo. Essa tendência continua com o aumento da adição de biodiesel no óleo diesel convencional. Rodrigues lembra que no mês de julho a mistura de biodiesel no diesel foi ampliada para 4% (o chamado B4). Ele destaca que houve uma positiva resposta do mercado, com a comprovação de que se verifica no Brasil uma razoável capacidade instalada de produção, de cerca de 4 bilhões de litros de biodiesel ao ano. Rodrigues salienta que o Rio Grande do Sul é um dos maiores fornecedores do produto para o mercado nacional, participando com 20% a 25% dos volumes vendidos nos últimos leilões.
O B4 representa uma demanda anual de 1,6 bilhão de litros. A partir de 2010, essa quantidade deve aumentar, já que o governo deverá autorizar no início do ano o aumento da mistura para 5%, antecipando em três anos as metas iniciais. O B5 significará, levando em conta o consumo atual, uma comercialização de 2,2 bilhões de litros de biodiesel ao ano. A expectativa é que o B5 seja liberado em 1 de janeiro do próximo ano. Para isso, a resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), permitindo a antecipação do incremento da mistura, precisará sair até o final de setembro para preparar o leilão a ser realizado até dezembro. Rodrigues relata que a indústria automobilística brasileira apontou que não há problemas para os motores com a adição do B5. Ele acrescenta que já há testes para verificar a aplicação do B20.
Para Rodrigues, o próximo passo comercial é tornar os biocombustíveis uma commodity e criar mercados internacionais sem barreiras para a expansão do uso dos produtos. Hoje, os maiores empecilhos para alcançar os mercados exteriores são os técnicos, vinculados a questões, como, por exemplo, o índice de iodo. Essa situação limita o uso de biodiesel proveniente da soja em países europeus. Também existe um excesso de capacidade de produção de biodiesel em nações como a Alemanha e França.
Rodrigues palestrou, na quinta-feira, no Seminário sobre Energia que a Agenda 2020 promoveu na sede do Departamento Autônomo de Estradas e Rodagens (Daer), em Porto Alegre. Quanto ao etanol, Rodrigues reforçou que o Brasil deverá bater um novo recorde de produção neste ano. A estimativa é da fabricação de cerca de 28 bilhões de litros em 2009, contra cerca de 27 bilhões de litros no período passado.
Nações africanas poderão iniciar produção de álcool
A Fundação Getulio Vargas (FGV) prepara estudo para viabilizar a produção de álcool por países africanos. O projeto será entregue em 2010 aos governos de Guiné Bissau e Senegal e deverá contemplar a adoção de mistura de álcool na gasolina, a exemplo do que é feito no Brasil. O diretor-executivo da FGV Projetos, Cesar Cunha Campos, explicou que o objetivo é que esses países se tornem produtores, e não compradores do álcool brasileiro.
Ele ressaltou que é saudável o desenvolvimento de novos mercados produtores. “Precisamos de mais países produzindo. O mais importante é exportamos tecnologia de produção”, afirmou, lembrando que estudos nesta mesma linha já foram entregues a outros países, como República Dominicana, El Salvador, Haiti e Guatemala. Para o especialista, do ponto de vista da exportação, é interessante o Brasil ficar atento à expansão do mercado europeu, cuja demanda por álcool deverá crescer até 280% em 2020, totalizando 19 bilhões de litros. “Isso abre uma janela para o mercado brasileiro”, observou Campos.
Ele salientou o forte incremento do mercado francês, que registra crescimento de 6,9%, ante elevação de 2,2% do mercado europeu. De janeiro e abril deste ano, a França consumiu 1,39 bilhões de litros, diante de uma produção de 1,62 bilhões de litros.
(Por Jefferson Klein, Jornal do Comercio, 04/09/2009)