O aquecimento do planeta amenaça provocar a extinção dos recifes de coral - e, com eles, um prejuízo de 170 bilhões de dólares anuais, causado pela falta dos "serviços" prestados por este rico ecossistema, alerta um relatório publicado esta semana. O estudo, patrocinado pela ONU e destinado aos líderes políticos que se reunirão dentro de três meses em Copenhague para decidir sobre o acordo que substituirá o protocolo de Kyoto, não deixa espaço para dúvidas: "O aquecimento global ameaça os recifes de coral com a extinção imediata".
A originalidade do trabalho do economista indiano Pavan Sujdev é a abordagem econômica do problema, ao calcular os prejuízos financeiros para o planeta em decorrência desta extinção. Para isso, leva em consideração o conjunto de "serviços" que os corais e os organismos que neles vivem prestam aos seres humanos. "Os serviços prestados pelo ecossistema dos recifes de coral, que vão desde a proteção das costas à alimentação dos peixes, têm um valor que chega aos 170 bilhões de dólares anuais", afirma Sujdev, encarregado da União Europeia (UE) e do Programa da ONU para o Meio Ambiente (Pnuma).
Um hectare de coral produz por ano entre 80 milhões e 1 bilhão de dólares em "oportunidades para o turismo e o lazer", segundo estimativas do estudo. A proteção dos litorais contra catástrofes naturais como inundações é avaliada entre 25 e 34 milhões de dólares anuais para cada hectare de coral. Com a extinção dos recifes de coral, o planeta também diria adeus a dezenas de bilhões de dólares em serviços em matéria de diversidade genética e de alimentos. "As barreiras de coral não são apenas lugares de férias de luxo, e sim um ecossistema independente inteiro", destacou o diretor do Pnuma, Achim Steiner, durante a apresentação do relatório em Berlim.
O estudo também tenta calcular o custo da recuperação dos recifes de coral: até 542.000 dólares por hectare. Esta operação, no entanto, recuperaria imediatamente 129.000 dólares por ano em serviços prestados. "Portanto, é amplamente preferível conservar estes ecossistemas do que deixar que se deteriorem para recuperá-los depois", concluiu.
Muitos especialistas criticam a iniciativa de avaliar os serviços prestados pela natureza, afirmando ser impossível calcular ao certo quanto valem fora do mercado, enquanto outros condenam o estudo alegando que este tipo de abordagem banaliza o patrimônio natural.
O relatório destaca no entanto, que considerando o atual estado em que se encontram os corais, as opções deveriam ser feitas com uma base ética, e não apenas levando em conta uma análise de custo/benefício. As taxas de CO2 na atmosfera, que atualmente chegam a 387 partes por milhão (ppm), deve ser inferior a 350 ppm para salvar os corais. "Aceitar uma meta de estabilização de taxas de CO2 em 350 ppm significa que a sociedade decidiu prescindir dos recifes de coral", lamenta o relatório, cuja versão final será publicada em novembro.
(Yahoo! / AmbienteBrasil, 04/09/2009)