As emissões de gases do efeito estufa fizeram com que na última década o Ártico atingisse seu momento mais quente dos últimos 2.000 anos, revertendo uma tendência natural de resfriamento que deveria ter durado mais quatro milênios. O dióxido de carbono e outros gases emitidos pelas atividades humanas se sobrepuseram a um ciclo de 21 mil anos vinculado a mudanças graduais na órbita terrestre em torno do Sol, segundo artigo publicado na quinta-feira (03/09) na revista Science. "Acho que isso realmente salienta como o Ártico é sensível à mudança climática (...), e é realmente o lugar onde pode-se ver primeiro o que está acontecendo com o sistema (climático) e como o resto da Terra irá ou deverá acompanhar," disse por telefone David Schneider, do Centro Nacional dos EUA para a Pesquisa Atmosférica, um dos autores do estudo.
O grande resfriamento começou há cerca de 7.000 anos, e as temperaturas do Ártico atingiram seu menor nível durante a chamada "Pequena Era do Gelo," que durou do século 16 até meados do século 19, coincidindo com o começo da Revolução Industrial. Essa tendência de resfriamento foi causada por uma inclinação característica da órbita da Terra, que muito gradualmente afastou o Ártico do Sol durante o verão boreal. A Terra agora está 1 milhão de quilômetros mais longe do Sol durante o inverno do Ártico do que há 2.000 anos, disse Darrell Kaufmann, da Universidade do Norte do Arizona.
O resfriamento deveria ter continuado durante os séculos 20 e 21 e mesmo depois, como parte desse ciclo de 21 mil anos. As novas pesquisas confirmam que isso não aconteceu. "Se não fosse o aumento dos gases do efeito estufa produzidos pela atividade humana, as temperatura de verão no Ártico deveriam ter se resfriado gradualmente durante o último século," disse em nota Bette Otto-Bliesner, uma das co-autoras, do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas dos EUA.
O que acontece no Ártico não se restringe àquela região, já que ela é o chamado "ar condicionado" da Terra. Quando o oceano Ártico se descongela no verão, ele expõe a superfície escura da água, que absorve mais energia solar ao invés de refleti-la, contribuindo ainda mais para o aquecimento global. O aquecimento do Ártico também afeta as geleiras em terra; se elas derretem, isso contribui com a elevação global do nível dos mares. O aquecimento dessa área também descongela o solo que habitualmente ficaria sempre congelado, o chamado de permafrost, o que lança metano, um poderoso gás do efeito estufa, na atmosfera.
(Por Deborah Zabarenko, Reuters Brasil, 03/09/2009)