É possível que os humanos tenham de reinicializar o termostato natural da Terra e desenvolver novas tecnologias, como refletir a luz solar de volta ao espaço, caso as negociações sobre o clima fracassem, afirmou a principal academia de ciências da Grã-Bretanha na terça-feira. A chamada geoengenharia não é um quebra-galho, mas poderá ser necessária para evitar uma catástrofe planetária e, portanto, merece mais pesquisas, como uma espécie de apólice de seguro, afirmou a Royal Society no relatório "Geoengineering the climate." Essas tecnologias, porém, não seriam uma alternativa aos cortes nas emissões, salientou o relatório.
Os esforços políticos para reduzir os gases que causam o efeito estufa estão sob os holofotes três meses antes de uma conferência organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo de selar um novo tratado climático para substituir o Protocolo de Kyoto. "Nada deve nos desviar da prioridade de reduzir as emissões globais de dióxido de carbono e garantir que a reunião de dezembro em Copenhague conduza a um progresso real," afirmou o presidente da Royal Society, Martin Rees. "Mas se essas reduções tiverem pouco resultado ou ocorrerem muito tarde certamente haverá pressão para que se contemple um plano B," ele afirmou a uma plateia no lançamento do relatório no centro de Londres.
O interesse crescente na geoengenharia em parte foi motivado por uma "esperança falsa de um quebra-galho," afirmou Rees. O principal conselheiro científico da Grã-Bretanha, John Beddington, no entanto, apoiou a realização de mais pesquisas. "Ela é parte da solução," afirmou ele sobre a tecnologia e pintou um cenário sombrio para o planeta. "Há um enorme 'se' sobre a existência ou não de uma ampla ação concordada em Copenhague, e se isso será suficiente. Também haverá emergências e surpresas (climáticas)," afirmou ele, referindo-se ao risco "devastador" de oceanos mais ácidos como resultado das emissões de carbono.
As tecnologias de geoengenharia podem ser divididas entre as que removem o dióxido de carbono (CO2) da atmosfera e as que refletem a luz solar de volta para o espaço. Tais tecnologias por enquanto estão limitadas aos laboratórios, e o relatório da Royal Society pediu por um programa de pesquisa britânico de 10 anos e 100 milhões de libras (163,2 milhões), em um aumento de dez vezes.
As populações têm lançado dióxido de carbono (CO2) no ar há milhares de anos por meio da queima de florestas para preparar a terra para a agricultura e, mais recentemente, com a queima de combustíveis fósseis após a revolução industrial. A reversão dessa tendência das emissões representa um grande desafio, que conduz a uma investigação crescente da geoengenharia. "Precisamos dela? Acho que existe um risco significativo de fazermos um progresso insuficiente com a redução das emissões e de que talvez seja necessário algum apoio para as reduções de emissões convencionais," afirmou o co-autor James Wilsdon.
(Por Gerard Wynn, Reuters Brasil, 01/09/2009)