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desmatamento da amazônia regularização fundiária sensoriamento remoto
2009-09-02

É virtualmente seguro afirmar, como fez o ministro Carlos Minc nesta terça (01/09), que o desmatamento na Amazônia em 2009 será o menor da história. Caso Minc e sua estimativa -que, ele mesmo admite, "não é muito científica"- estejam certos e a devastação fique mesmo na casa dos 9.000 km2, o Brasil vai bater bumbo na conferência do clima de Copenhague, em dezembro. Dirá que controlou o desmatamento, o que não é verdade.

Mais certo seria dizer, como um bêbado em reabilitação, que controlou o desmate neste ano. E "controlar" aqui é licença poética. Afinal, 9.000 km2, quase uma Jamaica, ainda é mais do que toda a produção de açúcar ceifou da mata atlântica entre 1700 e 1850.

Mesmo que fosse um dado a comemorar, como toda boa notícia na Amazônia, esta corre o risco de se desfazer -literalmente- numa nuvem de fumaça nos próximos meses. O "ano fiscal" da derrubada fecha com um viés de alta, e uma alta forte: julho de 2009 termina com um aumento de 93% em relação a julho de 2008, segundo o sistema SAD, do Imazon. E 160% em relação ao mesmo mês segundo o Deter, do Inpe.

A cobertura de nuvens, alta demais neste verão amazônico, fez com que parte do desmatamento de meses anteriores só viesse se revelar agora. "Mas não foi só efeito de nuvens", diz Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon. Segundo ele, a retomada da devastação pode ser explicada por dois fatores principais: afrouxamento das medidas de controle do governo, que ajudaram a derrubar o desmate sobretudo no verão amazônico de 2008, e um surto de grilagem que explodiu neste ano. A origem do surto tem nome: Medida Provisória 458, a MP da regularização fundiária.

Apesar de a MP só ter sido aprovada em junho, a sinalização do governo de que ela passaria, já no começo do ano, bastou para atiçar os especuladores. Uma evidência disso é a mudança na geografia do desmatamento neste ano. Áreas que não têm atividade agropecuária forte aparecem desmatadas. Entre elas está o eixo da rodovia BR-163, no Pará. O sul do Amazonas, considerado até pouco tempo atrás "fechado" ao desmatamento por conta de unidades de conservação criadas na divisa com Mato Grosso, também faz sua estreia entre os "pontos quentes" da Amazônia, bem como a calha norte paraense.

"A mudança no perfil é preocupante", diz Gilberto Câmara, diretor do Inpe. Regiões de desmatamento tradicionalmente alto, em especial Mato Grosso e Rondônia, cederam à crise econômica, às pressões do mercado (como a moratória da soja e o embargo dos supermercados à carne, após denúncias do Greenpeace) e ao cassetete, além da constatação deprimente de que, nesses Estados, há cada vez menos floresta para desmatar. No oeste do Pará, o desmate saiu do controle.

E aqui o fantasma de Marina Silva volta para puxar o pé de de Minc e de seu chefe, o presidente Lula. À frente do ministério, Marina criou unidades de conservação no "arco da grilagem" do oeste paraense e no sul do Amazonas. Lula não só não tirou esses parques do papel como armou a bomba-relógio da MP 458, que ameaça estourar em seu colo no pior momento possível -em 2010.

(Por Claudio Angelo, Folha de S. Paulo, 02/09/2009)


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