A vitória do partido de oposição japonês virou de ponta cabeça o cenário político do país, e em conjunto a política de mudanças climáticas. O resultado das eleições tem implicações sobre as negociações climáticas em Copenhague dentro de três meses. O Partido Democrático do Japão, liderado por Yukio Hatoyama, ganhou as eleições nacionais convincentemente, como previam as pesquisas, terminando a dominação do conservador Partido Liberal Democrático (PLD) que governou o Japão por 53 dos últimos 54 anos.
Em meio a uma recessão profunda e desencanto com o PLD conduzido pelo ex-primeiro ministro, Taro Aso, Hatoyama fez campanhas sobre uma agenda progressiva que parece ter conquistado o eleitorado. Entre as suas propostas está a abolição de taxas educacionais mais altas, o aumento do suporte às crianças, o estabelecimento de pensões e um salário mínimo para os agricultores, além de apoiar uma aliança mais equitável e menos subserviente com os Estados Unidos.
Outra parte elementar da eleição é a reforma verde, incluindo a promessa de aumentar a meta de corte das emissões de gases do efeito estufa do país para 25% em 2020 abaixo do nível de 1990. O PLD tinha implantado uma meta equivalente a cortes de 8% em relação a 1990, atraindo críticas internacionais por estar muito abaixo dos 25% a 40% incentivados pelos cientistas da ONU.
Se Hatoyama mantiver a sua palavra sobre a meta, isto aumentará a pressão política sobre os Estados Unidos e outros países desenvolvidos não europeus, que até agora se comprometeram com cortes menores do que 20%. Isto por sua vez, consolidou um impasse entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento que está segurando um novo acordo climático internacional. O primeiro ministro eleito deve comparecer a um encontro sobre mudanças climáticas, organizado pelos Estados Unidos, em Nova Iorque em 22 de setembro e discursará na Assembléia Geral da ONU no dia posterior.
Hatoyama também prometeu criar um esquema doméstico de comércio de emissões, algo que o ex-governante impediu nos últimos anos, introduzir uma tarifa ‘feed-in’ para o fornecimento de energias renováveis, e estabelecer uma meta de 10% de renováveis na oferta primária de energia até 2020. O editor executivo do site de sustentabilidade Worldchanging, Alex Steffen, ex-jornalistas ambiental no Japão, descreve o resultado como “muito excitante”. “Apesar de haver barreiras estruturais e culturais para o progresso sobre o clima e outras questões culturais, os japoneses também têm uma capacidade inovadora enorme...Um Japão comprometido em se transformar em uma usina de energia verde e brilhante é boa notícia para todos nós”.
O diretor de políticas climáticas internacionais do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais dos Estados Unidos, Jake Schmidt, alertou que o novo governo enfrentaria um grande desafio para implementar a sua política climática devido à oposição arraigada no setor empresarial e burocrático. “Você não verá uma mudança em cadeia. Eles ainda terão que enfrentar preocupações das indústrias e de ministérios que têm pontos de vista diferentes sobre as mudanças climáticas, e que são muito fortes”, disse Schmidt ao The New York Times na véspera da eleição.
(Carbon Positive / CarbonoBrasil, 01/09/2009)