Empresa paralisou expansão em Guaíba e adiou o projeto Losango
Com o anúncio de criação da Fibria, empresa resultante da fusão entre Votorantim Papel e Celulose (VCP) e Aracruz, nesta terça-feira (02/09), em São Paulo, o mercado aguarda agora as notícias sobre a retomada de projetos que foram adiados. Entre eles estão a expansão da unidade de Guaíba da Aracruz e o projeto Losango, fábrica da VCP que seria instalada em Rio Grande ou Arroio Grande, no Rio Grande do Sul. Conforme os executivos da Fibria, projetos de expansão dependem de “boas novas” no mercado de celulose mundial para sua realização.
Combinando os investimentos planejados anteriormente pela Aracruz e VCP, a Fibria possui cinco projetos de empreendimentos, com um volume de recursos de R$ 25 bilhões. Os investimentos expandiriam sua capacidade produtiva em até 6,7 milhões de toneladas de celulose adicionais, criando cerca de nove mil novos empregos diretos.
Devido à crise, não apenas a implantação das fábricas, mas também os plantios foram paralisados, a fim de reduzir custos e manter o fluxo de caixa da empresa. No caso do projeto Losango, 60 mil das 130 mil árvores necessárias para a instalação da fábrica já foram plantadas. “Ele não está descartado, mas precisamos esperar melhores condições para realizá-lo”, destacou José Luciano Penido, presidente do conselho de administração da Fibria.
O mesmo vale para o terminal que a Aracruz pretende construir em São José do Norte. Com um investimento de R$ 120 milhões, a obra ainda está em fase de licenciamento ambiental. “Embora esse processo não tenha sido paralisado, a construção também dependerá da recuperação do mercado”, afirmou Penido.
O caso de Guaíba, no entanto, é considerado mais urgente, pois todos os licenciamentos já foram aprovados, e a atual fábrica já teria atingido seu limite produtivo. “Nossa intenção é manter o projeto de Guaíba, mas isso depende do aumento da demanda de celulose”, destacou Aguiar. Caso sejam implementados, os dois projetos da Fibria no Rio Grande do Sul aumentarão a capacidade produtiva da empresa em três milhões de
toneladas por ano.
Reduzir dívida de R$ 13,4 bilhões é um dos desafios
Entre os desafios da Fibria está a redução de sua alta dívida líquida, que atinge R$ 13,4 bilhões. O valor é devido principalmente às perdas da Aracruz com operações de derivativos cambiais em 2008. A dívida foi renegociada junto aos bancos credores por um prazo de nove anos. A própria operação pela qual a empresa foi adquirida pela VCP também está incluída nessa soma. A empresa espera retomar o grau de investimento perdido com a crise, embora sem dar prazos para alcançar esse objetivo. “Queremos desalavancar a empresa e buscar as sinergias, temos uma enorme geração de caixa e condições de manter os pagamentos no longo prazo”, afirmou Marcos Grodetzky, diretor de tesouraria e relações com investidores da Fibria. As oportunidades de sinergias capturadas pela Fibria a partir das duas operações que lhe deram origem estão estimadas inicialmente em R$ 4,5 bilhões.
A fusão também deverá gerar cortes em algumas áreas. De acordo com o presidente-executivo Carlos Aguiar, cerca de 200 funcionários em todo o País deverão ser demitidos. “Mas esse é um número muito pequeno se comparado com o universo de trabalhadores que temos, e caso as condições do mercado melhorem poderemos fazer novas contratações já a partir de 2010”, destacou. Além disso, deverão ser fechados os escritórios internacionais de venda que a VCP mantinha em Shanghai, na China, e em Baltimore, nos Estados Unidos.
Produção anual alcança seis milhões de toneladas
A Fibria, empresa criada a partir da fusão entre Aracruz e Votorantim Celulose e Papel (VCP), já nasce líder mundial no mercado, com capacidade produtiva superior a seis milhões de toneladas anuais de celulose e papel. O capital está dividido entre a Bndespar (34,9%) e o grupo Votorantim (29,33%). O restante das ações está no mercado.
A empresa terá como presidente-executivo Carlos Augusto Lira Aguiar, que dirigia a Aracruz desde 1998. Já a presidência do conselho de administração fica com José Luciano Penido, presidente da VCP desde 2004. Penido também ficará responsável pelas questões ligadas à sustentabilidade das atividades da empresa. A Fibria vai unificar os comitês financeiros, de recursos humanos, de auditoria e sustentabilidade. O grupo Votorantim terá direito a indicar quatro dos sete conselheiros da empresa. A Bndespar deverá nomear outros dois representantes.
A Fibria emprega 15 mil profissionais, possui sete fábricas - duas de papel e cinco de celulose - localizadas no Rio Grande do Sul, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia. A base florestal ocupa 1,3 milhão de hectares, dos quais 461 mil são destinados à preservação. A companhia tem uma receita líquida anual estimada em R$ 6 bilhões, considerando os resultados alcançados pelas duas empresas de origem nos 12 meses anteriores a junho de 2009. No entanto, o resultado representa uma queda de 15% em relação à estimativa de R$ 7,1 bilhões anunciada em janeiro, quando a VCP formalizou acordo para comprar parte do capital da Aracruz.
(Por Marcelo Beledeli, Jornal do Comercio/RS, 02/09/2009)