Lula decidiu nesta segunda (31/08) incluir ambiente como destinatário de fatia de recursos do fundo a ser criado com a renda do petróleo. Dinheiro poderá ser usado em projetos de energia renovável e na tecnologia de captura e armazenagem de carbono no fundo do mar
Apesar dos estudos que apontam concentração três a quatro vezes maior de gás carbônico (CO2) no petróleo da camada pré-sal, o ambiente só ganhou espaço nas regras anunciadas ontem pelo governo em uma carona de última hora. O presidente Lula decidiu ontem de manhã incluir o ambiente como destinatário de fatia das verbas do fundo a ser criado com a renda da exploração.
O dinheiro do fundo, se aprovado pelo Congresso, poderá ser aplicado em projetos de energia renovável e até na tecnologia cara e ainda em fase experimental de captura e armazenamento de carbono no fundo do mar, conhecida pela sigla em inglês CCS. Lula se antecipou a uma reação prevista pelo ministro Carlos Minc. Segundo ele, a proposta do governo seria alterada no Congresso. A senadora Marina Silva (PV-AC) já havia cobrado investimentos na área. "Não posso dizer que é um efeito Marina, mas haveria reação no Congresso", disse Minc.
Num sinal da reação, ativistas da ONG ambientalista Greenpeace roubaram por alguns minutos a cena na cerimônia de lançamento do marco regulatório do pré-sal em protesto contra o aumento das emissões de CO2 decorrente da exploração das reservas. Os seguranças recolheram a faixa entregue a Lula onde se lia: "Pré-sal e poluição, não dá para falar de um sem falar do outro".
Na reunião de ontem de manhã, Minc voltou a falar dos estudos que apontam concentração maior de CO2 no petróleo da camada pré-sal em relação aos poços já explorados. Ainda durante a reunião, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse que a estatal já trabalha com a reinjeção nos poços de parte do CO2 extraído com o petróleo. Para Minc, isso não é suficiente. Regras detalhadas serão definidas na ocasião do licenciamento ambiental para a exploração comercial dos poços, prevista para começar em 2015.
As estimativas do Greenpeace assombram o negócio anunciado pelo governo. A ONG calcula que o pré-sal poderá ser responsável pela emissão de 1,3 bilhão de toneladas extras de CO2 na atmosfera, considerando não apenas o gás encontrado com o petróleo, mas o refino e a queima do combustível.
O custo da captura e armazenamento do CO2 do pré-sal pode alcançar centenas de bilhões de reais e anular o resultado do combate ao desmatamento da Amazônia, disse Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de energias renováveis do Greenpeace. "É muito fácil colocar um número no papel e partir para o tudo ou nada", reagiu Minc.
(Por Marta Salomon, Folha de S. Paulo, 01/09/2009)