Os métodos atuais para estimar as emissões de gases de efeito estufa têm limitações que os tornam inadequados para monitorar as emissões de CO2 e permitir o acompanhamento de um eventual tratado internacional do clima. O alerta foi feito em um comunicado da National Academy of Sciences, uma entidade que reúne especialistas de todas as áreas do conhecimento científico nos Estados Unidos.
Tiro pela culatra
O comunicado, feito com o objetivo de embasar uma solicitação para reposição de um satélite de observação do clima que a NASA perdeu no início deste ano, causou desconforto entre os cientistas reunidos na Conferência Climática Mundial, que está acontecendo em Genebra, na Suíça. A comunidade científica tem se defrontado com a comunidade política mundial em busca da adoção de medidas reais contra as mudanças climáticas. Para isso, o maior trunfo dos cientistas são os resultados de suas pesquisas, que parecem apontar de forma inequívoca para uma forte atuação humana sobretudo no aquecimento global.
Contudo, o comunicado da National Academy of Sciences demonstra a fragilidade dos meios atuais de mensuração dos gases de efeito estufa, afirmando que, ainda que um tratado climático mundial for assinado, os meios para seu acompanhamento ainda estão por ser desenvolvidos. "Se um tratado for negociado nos próximos meses, o monitoramento e a verificação [da emissão de CO2] deverão se basear nas capacidades atuais e nos melhoramentos das medições que possam ser disponibilizados rapidamente. Como o relatório final deste comitê irá descrever em maiores detalhes, os métodos atuais para estimar as emissões de gases de efeito estufa têm limitações para monitorar um tratado do clima," diz a nota.
Emissões do homem e emissões naturais
Os dados disponíveis hoje são divulgados pelos próprios países, não existindo um aparato técnico que permita que uma entidade supranacional colete seus próprios dados de forma independente, com embasamento científico, e verifique os dados divulgados pelos países. "Os instrumentos e métodos atualmente existentes para o monitoramento remoto de CO2 na atmosfera não são capazes, com precisão útil, de distinguir entre as emissões oriundas dos combustíveis fósseis e dos fluxos naturais, ou para verificar tendências nas emissões dos combustíveis fósseis," continua o documento.
Segundo os cientistas, o grande problema reside na técnica hoje utilizada para a medição das emissões de CO2, que somente produz resultados significativos para áreas muito grandes, como continentes, mas não para países. Esse problema poderia ser minimizado por meio da criação de uma rede mundial de coleta e amostragem de CO2, tanto em terra quanto no espaço.
Observatório de carbono espacial
É aí que entra o satélite OCO (Orbiting Carbon Observatory). Seu principal objetivo era testar o conceito de que essas medições poderiam ser feitas do espaço. A missão do OCO, contudo, morreu no lançamento. O satélite, que seria o primeiro a observar o ciclo completo do dióxido de carbono na Terra, não conseguiu entrar em órbita e a missão foi dada como encerrada - veja Satélite que iria monitorar ciclo do CO2 não atinge órbita. Agora os cientistas da National Academy of Sciences estão voltando suas baterias em favor da construção, pela NASA, de uma réplica do OCO, que possa ser lançada o quanto antes.
Prova de conceito
Nem mesmo isso, contudo, seria uma solução para o acompanhamento de um eventual tratado mundial do clima, alertam os cientistas. Acontece que o satélite não foi projetado para o monitoramento e verificação de um eventual tratado. Com uma vida útil prevista para dois anos, ele não seria por si só capaz de medir as tendências nas emissões de CO2. Ele seria apenas um laboratório para comprovar um método de medição que poderia vir a ser usado no futuro, por uma constelação de satélites construídos para essa finalidade.
No entanto, nenhum outro satélite projetado até hoje tem uma combinação de equipamentos de alta precisão que se aproxime daquela alcançada pelo OCO. Ou seja, se algo a se fazer para começar a criar a infraestrutura para monitoramento de um acordo climático global, seria a construção e lançamento o mais rapidamente possível de um OCO 2.0.
A ciência também parece estar avançando mais rapidamente do que as negociações para um eventual acordo climático. Várias descobertas têm apontado para a necessidade da revisão dos modelos atualmente utilizados para o acompanhamento das mudanças climáticas - veja Novos dados exigirão alterações nos modelos climáticos do IPCC.
(Inovação Tecnológica, 01/09/2009)